Avanços
«Onde há música não pode haver coisa má»,
Miguel de Cervantes in Dom Quixote
Verão é tempo de calor, de férias, e com ele surgem os festivais. Portugal transforma-se num enorme palco do mundo da música, reunindo os melhores artistas mundiais da actualidade. Calcula-se que os festivais de Verão no nosso país movimentem cerca de 1,5 milhões de ingressos. Os responsáveis não têm «mãos a medir» e as marcas apostam numa relação entre os consumidores e as boas sensações da música e do Verão.
A popularidade dos festivais de Verão portugueses ultrapassou fronteiras, e as organizações procuram públicos «fora de portas». São cada vez mais frequentes os sites que traduzem a oferta de festivais de Verão, adaptando os conteúdos aos tradicionais idiomas Inglês, Francês, Italiano e Alemão, mas, curiosamente, adaptando os idiomas da nossa vizinha Espanha às respectivas regiões autónomas, nomeadamente o Galego e o Catalão.
Na realidade, há já quem se desloque propositadamente a Portugal para ter oportunidade de assistir ao vivo a nomes internacionais como Shakira, Miley Cirus, John Mayer, Elton John, Muse, Rammstein, Faith no More, Deftones, Pearl Jam, Pet Shop Boys, Prince, Keane, Empire of the Sun, entre muitos outros que, por esta altura do ano, enchem os palcos e os recintos da «festivalomania» de terras lusas.
Prova provada que, mesmo em tempo de crise, os bons produtos têm sempre lugar, chamam os públicos e põem o mundo a girar.
Recuos
«A origem de toda a angústia é a de ter perdido o contacto com a verdade»,
Vilhelm Ekelund
No calor do Verão, a agência de rating Moody’s baixou a notação da República Portuguesa em dois notches (dois níveis). Nada de substancialmente novo. Aquela agência ameaçava fazê-lo desde há alguns meses, quando decidiu reanalisar a notação de Portugal para uma possível revisão em baixa. E assim foi, de Aa2 para A1, agora com Outlook Estável. O mesmo é dizer que baixaram os níveis de confiança dos investidores internacionais no nosso país, nomeadamente porque não é claro o rumo que a economia portuguesa vai seguir nos próximos tempos e não é certo o impacto das medidas de austeridade recentemente tomadas.
Na realidade, por mais que se diga relativamente ao papel das agências de rating, o que conta, no fim do dia, é que os investidores olham para as notações e comparam. Um analista fazia, há uns dias atrás, uma analogia interessante: se um investidor internacional tiver 100 unidades monetárias (u.m.) disponíveis para investir em obrigações emitidas por diversos países, irá escolher fazer o seu investimento de 100 u.m. num país em que existe um rumo, uma estratégia de desenvolvimento e com o objectivo de fazer prosperar a sua economia. Irá, certamente, preterir um país de uma economia periférica, fortemente dependente do exterior, sem estratégia, que irá muito provavelmente precisar do dinheiro para pagar salários a funcionários do estado, e cujas notícias apontam invariavelmente para instabilidade governativa.
Eis o «estado da Nação». Uns dias antes resumida a um downgrade, e dias depois em debate no parlamento: um exercício pouco credível de auto-motivação feito por José Sócrates, um pedido de demissão irresponsável de Paulo Portas e uma ausência generalizada de sentido de crítica construtiva do lado da restante oposição. Eis os críticos das Agências de Rating que, com a pobreza do discurso político, com a ausência de estratégia e com um vazio de conteúdo, vieram três dias depois a dar razão ao downgrade anunciado pela Moody’s.
Por este andar, continuaremos a falar de economia, de crise e das suas consequências nos próximos longos tempos.
Quadro Resumo da semana
AVANÇOS Os festivais de Verão em Portugal. RECUOS
O debate sobre o «estado da Nação».
Balanço da semana
RECUO – A contragosto, tenho que admitir que as agências de rating podem muito bem ter razão para os alertas que vão lançando acerca do nosso país. Esta semana, tal ficou bem patente num par de dias. Logo depois do anúncio do downgrade do rating da República Portuguesa, o debate no parlamento sobre o «estado da Nação» evidenciou as fragilidades. Estamos no meio de um ciclo vicioso, em que há ausência de estratégia, não há soluções e, por tal aumentam-se as medidas de austeridade que asfixiam ainda mais as ténues possibilidades de crescimento económico.
Comentários (0)