30 de junho de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços


 


«A parte mais importante do progresso é o desejo de progredir»,


Séneca


 


Portugal registou, nos primeiros meses do ano, um maior volume de exportação de energia eléctrica do que importação. Cronicamente dependente do exterior a nível energético, fica provado que, com uma estratégia bem definida, coerente e persistente é possível atingir resultados. É a consequência de um programa que tem vindo a ser seguido há mais de uma década, de aposta em energias renováveis. No seu conjunto, a produção de energia com origem em «fontes limpas», terá representado 70 por cento do total entre Janeiro e Maio.
 
Agora, preparamo-nos para acompanhar a revolução dos transportes, com a introdução de uma rede nacional de abastecimento de automóveis eléctricos. Depois de seguir uma estratégia de apoio à instalação de competências para a fabricação de automóveis eléctricos, com a entrada de unidades de negócio das marcas Renault e Nissan em Portugal há quase dois anos, começa agora o «count down» para colher os frutos dessas opções.


«Mobi.e» é a marca da rede de postos de carregamento de veículos eléctricos. Um exemplo que já tem uma enorme amplitude de exposição mediática no exterior, atendendo à originalidade da iniciativa.


Faz sentido. Quer para os compromissos assumidos por Portugal no âmbito da redução das emissões de CO2, quer no domínio da mudança de paradigma energético, com as devidas repercussões na balança comercial portuguesa. Estes são os sentidos que nos fazem recordar que, só com políticas coerentes e consistentes a médio e longo prazo é possível contribuir para a sustentabilidade do país.


 


 


Recuos


 


«O mais difícil não é cumprir o dever, é conhecê-lo»,


Louis Bonald


 


SCUT. A sigla que domina a actualidade. Auto-estradas «Sem Custos para o Utilizador» estão à beira de se transformar em mais uma fonte de receita que se prevê vir a contribuir para o incremento das receitas no âmbito do PEC. Por estas horas amargas, o Ministro das Finanças conta todos os «tostões» que possam ajudar no incremento das receitas. E conta tudo, nos dias que correm, a provar que os «direitos adquiridos» não passam de um mito.


Não vou sequer discutir a justiça (ou a falta dela), na introdução da medida de introdução de portagens nas SCUT. Nem escreverei uma linha sobre a imprudência que foi a criação das SCUT na década de 80, pois desde o início, é recorrente a discussão sobre a insustentabilidade do modelo altamente dependente do erário público.


Há, no entanto, algo que me entristece: a precipitação. Em Portugal, é frequente comunicar mal, não comunicar ou ocultar a verdade. A ausência de explicações aos cidadãos portugueses é frequente, e a «novela» das SCUT não escapa a este fenómeno. Afinal, tudo seria mais simples se, desde o início, se explicasse aos portugueses o que se iria fazer, porquê e quais os equilíbrios que se pretendem atingir.


Mas não. Fala-se da cobrança de portagens, que abrangem um conjunto de vias, mas depois recua-se e já não são todas. Depois, todos os que pretendem utilizar as vias têm de adquirir obrigatoriamente um «chip», mas os residentes ficarão isentos, mas depois recua-se porque não houve um debate na Assembleia da República (AR) que permitisse criar consensos. Depois, o «chip» está disponível nas estações dos correios, mas o Automóvel Club de Portugal vem aconselhar os sócios a não encomendar o «chip» por antecipar a ausência de consensos na AR. Depois, vem o Secretário de Estado afirmar que o «chip» ficará disponível nos postos de abastecimento de combustíveis e os turistas, com veículos de matrícula estrangeira, também terão de adquirir o «chip». Finalmente, adia-se a introdução de portagens nas SCUT seleccionadas, para o princípio do mês de Agosto.


Tudo soa a precipitação. «Cobrar» é o lema do presente. O contribuinte até seria capaz de estar disposto a pagar mas, perante estes avanços e recuos sucessivos, fica perplexo e perde a confiança nas medidas que são anunciadas. Começo a ter a sensação de que o português não está revoltado. Antes, indignado. Isto, para não falar nos pobres turistas que queiram circular nas estradas portuguesas, e que até estarão dispostos a pagar… mas não sabem como.



 


Quadro Resumo da semana


 







AVANÇOS


A redução da dependência energética de Portugal face ao exterior.


 


RECUOS
«Cobrar» é preciso. Não interessa porquê, nem como. «Cobre-se».


 


Balanço da semana


 



RECUO – Que pena… uma semana com «tudo» para avançarmos na direcção de um Portugal melhor. Mas a precipitação ofusca as boas ideias e as boas estratégias. Uma sugestão para um «avanço»: quando houver produção de veículos eléctricos em série, criar um regime (mesmo que transitório) de isenção do pagamento de portagens para este tipo de veículos. Mas quando (e se) o fizerem, não se esqueçam de explicar…

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