Avanços
«Não há papéis pequenos, só actores pequenos»,
Milan Kundera
É da cultura do exemplo que se espera os avanços de Portugal enquanto país capaz de gerar valor e de melhorar o seu desempenho enquanto marca a nível internacional. E, se o exemplo vier de uma média empresa, tanto melhor, uma vez que falamos de unidades de fabricação capazes de gerar emprego e de exportar o que é criado por nós.
Porcel. É o nome de uma empresa de média dimensão, que se dedica ao fabrico de porcelanas desde 1987. Ficou mais conhecida internacionalmente ao fazer parte do jantar oferecido pela Casa Branca, nos Estados Unidos da América. O casal Obama seleccionou a portuguesa Porcel, de entre várias empresas potenciais fornecedoras, para fabricar uma peça que reproduz a pintura de uma águia norte-americana do início do século XIX.
Sucede que já não é a primeira vez. A Porcel, através do museu Mount Vernon, que se dedica a retratar o primeiro presidente dos EUA, recebeu, na sua fábrica em Aveiro, relíquias pertencentes a George Washington de modo a responder a encomendas de réplicas fiéis, as quais são vendidas no museu e oferecidas a convidados da Casa Branca.
Mais um exemplo de que, a partir de Portugal, é possível criar, inovar e produzir com qualidade mundialmente reconhecida. Só assim se garante a sustentabilidade do emprego e da capacidade de geração de valor no longo prazo. Parabéns à Porcel pelo exemplo dado.
Recuos
«E se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que paguei demais por aquele tapete novo.»,
Woody Allen
Juro que não é perseguição ou sectarismo. Juro que tinha vontade de poder escrever outra coisa. Acreditem que teria um enorme prazer em relatar importantes avanços do esforço de Portugal em vender a sua imagem, os seus produtos e serviços no estrangeiro. Fiquei uma semana, ansiosamente à espera, de assistir a evoluções positivas depois dos fracos resultados da visita de Sócrates à Venezuela. Não estou nada motivado para esperar por falhas do nosso Primeiro-Ministro. Pelo contrário, torço por ele, porque se ele for bem sucedido, nós ganharemos com isso. Mas, anunciar a venda de know how português sobre TGV a Marrocos… é demais!
Nem queria acreditar no que estava a ver. Mas foi. Na TV, José Sócrates anunciou que, um dos progressos da XI cimeira Luso-Marroquina, foi o interesse na colaboração de Portugal no desenvolvimento do projecto de TGV de Marrocos. Ironicamente, no mesmo dia, o governo espanhol deliberava o adiamento da abertura de propostas para a construção do troço de TGV que vai ligar Madrid a Lisboa, decisão inscrita no «Boletim Oficial do Estado», o equivalente ao «Diário da República» português.
Credibilidade, começa a ser a palavra-chave na gestão das relações do governo português com os seus parceiros, sejam eles empresários estrangeiros, empresários portugueses ou outros governos de outros países. Até pode ser verdade, e até pode ser uma grande oportunidade… mas o entusiasmo sobre esta matéria é inoportuno e soa a irreal: exportar conhecimento sobre TGV quando ainda não construímos o nosso e, provavelmente, vamos levar anos de atraso? Esta é mais uma a somar às afirmações do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mendonça, ao referir-se à grande oportunidade de o TGV transformar Lisboa na «praia de Madrid».
Não está em causa o TGV, mas sim a visão estratégica (ou a sua ausência) sobre esta obra…
Quadro Resumo da semana
AVANÇOS Porcel. Um exemplo de uma pequena grande coisa. Muitas fazem a nossa identidade.
RECUOS |
Balanço da semana
RECUO – A ausência de uma estratégia para o desenvolvimento da capacidade exportadora portuguesa e para o aumento da quota de mercado dos produtos e serviços portugueses no estrangeiro. Ainda por cima, agora, altura em que o euro desvaloriza face ao dólar. Falta «agarrar» a oportunidade.
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