31 de maio de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços


 


«As coisas apenas valem pela importância que lhes damos»,


André Guide


 


Recordo-me do Rali de Portugal, quando ainda era «Vinho do Porto». Recordo-me também de ser reconhecido internacionalmente por ser o melhor Rali do Mundo. Ícones obrigatórios eram as PEC (Provas Especiais de Classificação) de Sintra, a instalação do estado-maior da organização no antigo Hotel Estoril-Sol, as espectaculares provas do Gradil e de Arganil. Mais tarde, as PEC de Sintra eram suprimidas devido à falta de segurança provocada pelos milhares de pessoas que se deslocavam para a Peninha e para a Lagoa Azul, cujos troços não aguentavam a quantidade de gente que ali se acumulava. O Rali perdia mais de metade do seu encanto…


Recordo-me também do saudoso César Torres, o verdadeiro «Senhor Rali», homem que manteve de pé o Rali de Portugal como uma grande «bandeira» de Portugal no Mundo. Deixou-nos há 11 anos.


O Rali de Portugal volta à ribalta. Concentrado em troços de terras algarvias, começa a despoletar novamente a curiosidade e os participantes foram unânimes em considerar a qualidade da organização e o traçado como ao que de melhor nível se faz mundialmente.


Mas, infelizmente, longe vão os tempos em que havia transmissões televisivas do Rali em directo nos canais de grande audiência. O Rali deixou de estar no radar da comunicação social portuguesa, apesar de a cobertura internacional ser vasta e de grande projecção para Portugal. É que as grandes estações televisivas mundiais cobriram o evento que, ironicamente, corre o risco de se manter nos próximos anos por falta de apoios públicos que complementem os investimentos realizados pelo Automóvel Club de Portugal.


O Rali «ressuscita», voltando a projectar no mundo a marca Portugal. Que as novas PEC não estejam apenas destinadas a deixar saudades… Afinal, as coisas têm valor quando lhes atribuímos valor.



 


Recuos


 


«Um dos grandes segredos da sabedoria económica é saber aquilo que não se sabe»,


John Galbraith


 


Estratégia, ou… ausência dela. Sócrates volta à Venezuela e procura agora concretizar o que foi acordado em 2008. Mas, os praticamente 3 mil milhões de euros de negócios prometidos na cimeira Luso-Venezuelana ficam-se, para já, apenas pelos 1,7. É a crise. Mas, acima de tudo, é Hugo Chávez a defender os interesses dos venezuelanos. É que agora, para além das encomendas baixarem, exige-se o estabelecimento de unidades fabris das empresas portuguesas no território venezuelano: a JP Sá Couto, produtora do computador Magalhães e o grupo Lena, na produção de casas pré-fabricadas, terão de instalar fábricas na Venezuela.


O princípio parece correcto. Sócrates vai aos potenciais mercados, destinos de exportação dos produtos portugueses, acompanhado de empresários portugueses. Deste modo, espera-se que as empresas portuguesas invistam mais na sua capacidade de produção e consigam gerar emprego em Portugal. Excepto quando é solicitado, como contrapartida, que as empresas portuguesas se estabeleçam nos mercados-destino dos produtos. Nesta circunstância, as possibilidades de produção de bens transaccionáveis no mercado português reduzem-se não gerando a riqueza nacional e o emprego esperados. Chávez diz para os empresários portugueses entrarem em força na Venezuela. Pudera. Dessa forma, está a garantir a entrada de investimento estrangeiro no seu país, a qualificar mão-de-obra interna para produzir no seu país e a importar know-how. Depois, só se espera que não faça o que tem sido sua prática corrente: proceder a nacionalizações de esforço estrangeiro.


Notícias deste tipo só são interessantes, do ponto de vista económico, se ajudarem a melhorar a capacidade de exportação portuguesa e o investimento na criação de empregos em Portugal. Caso contrário, para que nos interessa saber que a empresa portuguesa A ou B estão a investir em fábricas nos países Y ou Z? Onde está o valor gerado em Portugal para a criação de empregos para os portugueses?


Os princípios de apoio para a internacionalização das empresas portuguesas estão certos. Falta uma estratégia para o desenvolvimento da capacidade de produção de bens transaccionáveis a partir de Portugal. De outra forma, até podemos ter excelentes empresas e empresários portugueses, mas continuaremos com taxas de desemprego a níveis historicamente elevados.


 



 
Quadro Resumo da semana


 







AVANÇOS


O Rali de Portugal volta à ribalta mundial. 


 


RECUOS


Tarda o desenvolvimento de uma verdadeira estratégia de apoio à internacionalização das empresas portuguesas, com o objectivo de gerar emprego em Portugal.


 


Balanço da semana


 


RECUO – Os esforços de Sócrates na Venezuela são «trocos» para as necessidades do país. Acordos no valor de 1,7 mil milhões… são gotas de água num enorme oceano de necessidades para o desenvolvimento do tecido empresarial português em Portugal. E faz-se disso notícia, como se fosse um passo estratégico para o apoio às empresas… Portugal precisa de encontrar uma fórmula que passe por melhorar as suas capacidades internas de fabricação de produtos e serviços capazes de competir nos mercados internacionais. Isso sim, é aumentar as exportações e gerar emprego em Portugal.

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