Avanços
“A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces”, Aristóteles
Tinha acabado de entregar os avanços e recuos da primeira semana quando, subitamente, surge a notícia do desfecho das negociações entre os parceiros sindicais e o governo relativamente aos impasses que abalaram o sistema educativo português. A ministra da educação, Isabel Alçada, de sorriso indisfarçável, pouco comum em titulares de cargos públicos, mostrara a sua forma de estar perante o país: empenhada, genuína e emotiva. Não é vulgar encontrar políticos com estas características. É um avanço, uma governante mostrar positivismo na sua forma de estar, e contagiar esse mesmo sentimento numa área que continua à procura de acertar um rumo bem definido. Na realidade, a educação é factor-chave na construção da marca Portugal. Um entendimento entre todos os que contribuem para o sistema de educação português é essencial para garantir futuros avanços.
Há sinais de que é possível um entendimento entre diversos partidos com assento parlamentar sobre o Orçamento de Estado para 2010. Isso pode constituir, por si só, um importante avanço. As condições para um desempenho económico desejável passam pela criação de confiança junto dos agentes económicos. Sinais de entendimento sobre matérias tão criticas são, por si só, boas notícias e, portanto, um avanço, ainda que passível de confirmação nas próximas semanas.
Recuos
“A paciência é a chave da alegria; a precipitação, a do arrependimento”, Provérbio popular
Foi indisfarçável a tentação de José Sócrates responder a Cavaco Silva aquando do seu discurso no lançamento da primeira pedra da construção do novo Hospital de Loures, ao referir-se àquela obra como um investimento nas “futuras gerações”. Estaria a ripostar as preocupações que o Presidente da República sublinhou no seu discurso de Ano Novo, quando se referiu ao condicionamento que a dívida pública poderá ter nas futuras gerações? Pensaria Sócrates que, em jeito populista, estão a ver que investimento público também é investir em hospitais, e isso é indiscutivelmente bom para a sociedade? Mas alguém contesta essa evidência? Era necessário “dar a bicada”? As legítimas preocupações do PR quanto ao endividamento do Estado, que têm eco nos vários quadrantes da sociedade portuguesa, tardam em ser firmemente aceites pelos mais altos responsáveis da governação e, ao invés de uma reacção séria e empenhada, a resposta evidencia ausência de alinhamento sobre uma matéria tão sensível, e uma forte tendência para abrir já o dossiê das Presidenciais, a tanto tempo de distância das eleições. É tudo o que o país, neste momento, não precisa. Num momento económico-social tão sensível, focos de “politiquice” não ajudam a resolver os problemas dos portugueses e, portanto, são incontornáveis recuos na construção de valor para Portugal.
“Portugal corre sério risco de morte lenta”. Foi este o título escolhido pela imprensa para retratar as preocupações da agência de rating Moody’s relativamente ao desempenho da economia portuguesa, nomeadamente as perspectivas de fraco crescimento económico previsto para os próximos anos e o crescente endividamento público. Parece haver a tentação de “escolher uma próxima vítima”: cresce, no mercado internacional, a ideia de que Portugal está à beira de ser a “próxima Grécia” em matéria de derrapagem das contas públicas. Ora, tal imagem não é benéfica para o prestígio do pais e também não contribui para o desempenho dos agentes económicos portugueses, a começar pelo sistema financeiro: um sentimento generalizado de risco associado ao cumprimento do serviço de dívida é absolutamente extemporâneo, imprudente e irrealista, e pode fazer perigar a capacidade de financiamento da economia portuguesa, nomeadamente pelo aumento do custo do dinheiro que, inevitavelmente se alargará às empresas tornando ainda mais difícil a retoma da economia. Portugal não é a Grécia. Não “insuflou” artificialmente como a Grécia, nem como a Irlanda, muito menos como a Letónia ou como a falida Islândia. Esta coisa da formação da imagem negativa “porque sim”, por desconhecimento e por comparação com outros sem qualquer aprofundamento de análise, pode ser fatal. Do lado do Ministério das Finanças, urge a implementação de uma estratégia de comunicação, junto dos mercados, sobre a política de gestão das contas públicas, por forma a separar o trigo do joio.
A ausência de actuação nesta matéria será um recuo fatal, que condicionará severamente as nossas perspectivas de construção de valor para Portugal.
Quadro Resumo
AVANÇOS
|
RECUOS
|
Balanço da semana 2:
RECUO – a ausência de um alinhamento institucional entre PM e PR num momento em que, nos mercados financeiros internacionais, há sinais de degradação da imagem de Portugal, pode ser um severo recuo para a construção de valor no futuro próximo.
Comentários (0)