14 de maio de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços


 


«Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro… É a Hora!»,


Fernando Pessoa


 


Não! Foi a resposta de Zeinal Bava, Presidente Executivo da Portugal Telecom à tentativa de compra da Vivo, por parte da espanhola Telefonica. Bava considera que há valores mais importantes que a mera operação financeira. Tem uma estratégia, um rumo e uma convicção. E considera que perder a Vivo seria hipotecar irremediavelmente o destino da PT.


O anúncio da intenção da Telefónica apanhou todos de surpresa, e houve mesmo accionistas de referência que repudiaram veementemente a forma como o episódio ocorreu. Os espanhóis “continuam a comportar-se como conquistadores”, observou Nuno Vasconcellos, Presidente da Ongoing, que detém 6,7% da PT.


Esta resposta ao estilo «batalha de Aljubarrota» contrasta com um pseudo-liberalismo nacional que levou à transferência de poder de gestão de Portugal em negócios realizados na década de 90 com «nuestros hermanos».


Até aceito que haja interesse de accionistas e de empresários, e que o mercado possa funcionar em pleno, e de forma transfronteiriça. Mas, a nossa «PT» seria demais! É que há um conjunto de marcas que fazem parte da nossa identidade enquanto país, e a «PT» faz, efectivamente, parte de nós.


Obrigado a Zeinal Bava, por contribuir para que Portugal enquanto Nação e enquanto Marca continue a fazer sentido.


 


 


Recuos


 


«Pode-se enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo»,


 


Abraham Lincoln


Sou um optimista por natureza. Nos últimos tempos, procuro sê-lo com maior vigor, mas, ultimamente, tenho sido fintado pela conjuntura. Detesto quando os meus prognósticos pessimistas se tornam realidade. E isso aconteceu esta semana.


Quem teve oportunidade de ler os recuos da semana anterior, lembrar-se-à da minha afirmação: “A sequência será inevitável: anúncio da continuação do investimento em obras públicas, downgrade da notação da República Portuguesa, aumento do custo do dinheiro, agravamento do défice das contas públicas, pressão dos mercados internacionais, medidas excepcionais «forçadas» como cortes salariais na função pública e aumento dos impostos.”


Eis a confirmação. E, para quem tivesse dúvidas, obras públicas sem disciplina orçamental implica inevitavelmente «aperto do cinto». É que os tempos não estão de feição para «governação teimosa».


Portugal entrou numa rota de falta de confiança nos gestores da coisa pública. Numa semana fala-se que a culpa é dos especuladores, a seguir anunciam-se obras públicas e depois apresenta-se a factura aos portugueses.


É notória a ausência de capacidade de comunicação dos dirigentes de Portugal. Confiança adquire-se a «falar verdade». É óbvio que os portugueses entendem as coisas quando se lhes transmite a verdade. É óbvio que as entidades externas acreditam nas medidas do governo português quando este transmite rigor e determinação.


A tentação do «jogo político» é enorme, mas falta cumprir com a nobreza da sinceridade. Esta é a hora dos desenganos.


 


 


Quadro Resumo da semana


 







AVANÇOS


O Não da PT à intenção de compra da Vivo por parte da Telefónica.







RECUOS


Medidas extraordinárias de «austeridade»: a factura dos excessos cometidos e da ausência de uma visão estratégica para Portugal.


 



Balanço da semana


 


RECUO – Não é possível gerir um país sem falar a verdade aos seus cidadãos. Os portugueses até podem entender as dificuldades como, aliás, sempre entenderam pelas provas dadas ao longo da História. Mas, a ausência de um estilo de governação sério e sincero faz com que a indignação geral seja maior quando vem à tona a fatal necessidade de dividir a despesa por todos. O nível de indignação seria bem menor se os dirigentes comunicassem melhor, falando a verdade.

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelas
Loading ... Loading ...

Comentários (0)

Escreva o seu nome e email ou faça login com o Facebook para comentar.