Avanços
«Na acção, sê primitivo; na antevisão, um estratego», René Char
Roberto Medina, o grande promotor do Rock In Rio, defendeu que Portugal é um «país maravilhoso» mas «mal embalado» e lembrou que também o Brasil sofreu uma crise económica há cerca de dez anos, semelhante à que vivemos hoje nas terras lusas.
Às vezes, é preciso este tipo de olhares de fora para dentro para dar o «abanão» necessário. Tendemos a exacerbar o lado negativo que contrasta com o espírito aberto e empreendedor de quem vem de fora e consegue vencer. E Roberto Medina vence, transformando o Rock In Rio Lisboa num evento internacional, alicerçado com o que há de bom em Portugal. Como ele diz: “o festival «é um exemplo para o turismo» num país que tem «geografia e gastronomia»“.
Já há dias de cartaz a esgotar no Rock In Rio Lisboa. A promoção do festival é um sucesso dentro e fora de portas. A receita é responder à pergunta: «como fazer um excelente produto num país periférico, deprimido e sem sentido positivo?». Roberto Medina tem a resposta: Alma, Fé e Visão.
Recuos
«Certos defeitos são imprescindíveis à existência dos indivíduos. Ser-nos-ia desagradável ver amigos de longa data porem de lado alguns dos seus particularismos», Johann Wolfgang von Goethe
Portugal Debt – palavras-chave que retornam 15.652 notícias na pesquisa do Google.com. Nunca antes Portugal foi tão noticiado na imprensa internacional. Pela pior razão. É que as notícias «atiram» Portugal para o mesmo cesto da Grécia, seguindo-se a Irlanda e Espanha. É novamente a dívida pública portuguesa a dar que falar. Dizia um amigo meu que, recentemente, participou numa conferência internacional em Londres que o simples facto de ser português já era motivo suficiente para comentários acerca do «estado de saúde» das finanças portuguesas.
Falta alinhamento quanto aos aspectos essenciais: cerrar fileiras seria o mínimo para fazer frente ao tão baixo nível reputacional a que a marca «Portugal» chegou nos mercados internacionais. Mas não. Ao invés, defende-se a continuidade dos investimentos em obras públicas de grande dimensão (inclusive sem se saber se vamos ter linha de TGV construída do lado espanhol a partir da fronteira do Caia… é que Espanha também está a rever prioridades de investimento), utiliza-se a posição defendida de reponderação dos investimentos como arma de arremesso político, quando parece óbvio aos olhos de todos os portugueses que, naturalmente, preferem não ver os seus impostos mais agravados em troca do adiamento do TGV e do novo Aeroporto de Lisboa.
Esta semana, surge a notícia que dá conta de um corte corajoso nos salários da função pública Romena para evitar a bancarrota. Irlanda fora, em Fevereiro, o país a dar o primeiro passo em medidas de austeridade que demonstraram sinais firmes de combate à crise da dívida. Isso valeu-lhes o evitar de uma descida na notação de rating do país.
Alguém tem dúvidas que as agências de rating descerão a notação de Portugal imediatamente se continuarmos a insistir no programa de obras públicas? A sequência será inevitável: anúncio da continuação do investimento em obras públicas, downgrade da notação da República Portuguesa, aumento do custo do dinheiro, agravamento do défice das contas públicas, pressão dos mercados internacionais, medidas excepcionais «forçadas» como cortes salariais na função pública e aumento dos impostos.
Bastou uma semana para «cair por terra» o efeito do encontro Sócrates-Passos Coelho. São tentadoras as «obras de regime». No Portugal contemporâneo, as obras públicas são vistas pela classe política como o novo «ópio do povo».
Quadro Resumo
AVANÇOS Rock In Rio Lisboa como exemplo de um produto bem «embalado» e apetecido no mercado nacional e internacional. |
RECUOS A teimosia do anúncio de obras públicas (2ª semana).
Balanço da semana
RECUO – A teimosia do anúncio das obras públicas, e a «miopia» dos efeitos multiplicadores da economia portuguesa. Portugal precisa de melhorar a sua competitividade e o seu desempenho conquistando mercados através de bens e serviços exportáveis. «Obras de regime», neste momento, é tudo o que não precisamos. Basta perguntar aos empresários em particular e… aos portugueses em geral.
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