23 de abril de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços


 


 


«No lar onde não há crença aparece a desavença»,


Provérbio Popular


 


 


A visita papal já é tema de conversa de corredores. A minha memória chega às visitas de João Paulo II, motivo de orgulho para os portugueses, enchendo por completo o santuário de Fátima, o Estádio do Restelo, o Estádio dos Barreiros, no Funchal, o centro de Ponta Delgada e um descampado que tinha o Monte Brasil de Angra do Heroísmo como cenário de fundo.


 


 


Os tempos mudaram, e o sentimento agnóstico virou moda. As notícias derivam para frases como “este Papa não vende” e “não gosto da cara dele”. A onda de casos pedófilos que têm envolvido figuras da Igreja também não ajuda. E, depois, mistura-se tudo dando origem a mais uma «ciclogénese explosiva» de notícias que, de positivo, só poderá ter as audiências.


 


 


Escolho este tema como um avanço da semana motivado por uma afirmação feita por um ouvinte de uma estação de rádio que, numa emissão em directo, ousou reverter, com sabedoria, a polémica da tolerância de ponto. Ora, defendeu o ouvinte, «tolerância de ponto» quer dizer exactamente isso: tolerância. Não confundir com feriado nacional, ócio, falta de produtividade ou laxismo. Dizia o cidadão esperar que os portugueses não crentes, agnósticos, laicos, ou de qualquer religião que não a católica, ou mesmo os católicos não motivados por esta visita papal, se mantenham nos seus postos de trabalho.


O ouvinte daquela estação de rádio estava certamente a pensar na importância que é receber a visita de Sua Santidade, o simbolismo e a motivação que tal facto representa para Portugal e para


 


os portugueses, na sua grande maioria, católicos. Viu-se na responsabilidade de defender a dignidade do nosso país e da nossa cultura. Prova de que os cidadãos portugueses são os melhores embaixadores da nossa imagem enquanto Nação.


 


 


Falta de responsabilidade será, certamente, fazer da «tolerância de ponto» um Feriado Nacional. Já basta os jogos do Campeonato do Mundo que se avizinham, e que não são motivo de «tolerância de ponto» oficial.



 


 


 


Recuos


 


 


«A arte de agradar é a arte de enganar»,


 Luc de Clapiers, Marquis de Vauvenargues


 


 


Acima do que era esperado, o Conselho de Ministros aprovou a tributação das mais-valias em 20 por cento, a contar a partir de 1 de Janeiro. Aprovou igualmente o escalão máximo de 45 por cento para a tributação em sede de IRS. Desta forma, o Governo reduziu substancialmente o peso dos argumentos das vozes mais discordantes da ala mais à esquerda do parlamento.


 


 


São medidas, cuja expectativa de receita fiscal não ultrapassará significativamente os 250 Milhões de euros anuais. Mas, para isso é necessário que duas coisas sucedam em simultâneo. Por um lado, que o volume de transacções na bolsa de Lisboa se mantenha, e por outro, que os trabalhadores por conta de outrem que auferem rendimentos anuais que recaiam sobre o escalão máximo não passem a ganhar menos.


 


 


Ao mesmo tempo que eram anunciadas as medidas, o Ministro das Finanças sublinhava a necessidade de ser discutida no parlamento a ajuda dos países da zona Euro à Grécia. Ironicamente, a quota-parte que cabe a Portugal (cerca de 774 Milhões de euros) é três vezes superior à receita fiscal programada para um ano, aplicando as medidas agora anunciadas. Ceteris Paribus, quer dizer que nos teremos de endividar para emprestar aos gregos. É certinho.


 


 


Infelizmente, tudo isto soa a «populismo». O relevo dado pela comunicação social a estas medidas dá a ideia que é por aqui que se segue o tão afamado PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento). Não me parece que a tributação dos mais ricos passe por tributar trabalhadores por conta de outrem. Também não é a tributar as mais-valias no mercado de capitais que ajudaremos ao desenvolvimento económico. Desenganem-se as vozes críticas. Daqui não sairá a solução para Portugal. Ao contrário, suspeito que, os que podem ter soluções, continuarão a sair de Portugal. Afinal, segundo a lei de Gresham, «a má moeda tende a expulsar a boa moeda». Parafraseando, os «maus portugueses tendem a expulsar os bons portugueses».



 


 


 


Quadro Resumo


 







AVANÇOS 


A dignidade dos portugueses ao refutarem tentativas de denegrir a visita do Papa a Portugal


 


 







RECUOS 


A tentação do «populismo»


 


 


Balanço da semana


 


 


RECUO – Pior do que má política é a política «populista». A tentação para se falar por todo o lado de gestores que ganham muito, de especulação de capitalistas, enfim, do discurso pós-moderno d’«os ricos que paguem a crise», é um argumento populista, pobre e pouco civilizado numa sociedade evoluída. Mais do que nunca, precisamos do dinheiro dos ricos para investir em Portugal e precisamos de pôr a iniciativa privada a gerar emprego. Precisamos dos gestores e dos empreendedores com boa vontade, com ideias e… com dinheiro. A cedência do Governo aos argumentos populistas não augura nada de bom para a construção de um Portugal menos endividado e mais próspero.

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