Avanços
«Ninguém quer o bem público que não está de acordo com o seu»,
Jean Jacques Rousseau
O que é, afinal, uma abstenção? Se recorrermos ao purismo linguístico, trata-se de uma privação ou desistência voluntária de um direito político, cívico ou social. Será então que a abstenção do PSD na votação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), que permitiu viabilizar a aprovação da proposta, é uma desistência voluntária de um direito de voto? Claro que não.
Apesar de estar descrente na nobreza do exercício da coisa pública, estava fortemente esperançado num alargado consenso em torno do PEC, não como uma fundamental peça política, mas como um desígnio nacional. Creio que a maioria dos portugueses conscientes o sente assim. Como uma causa. E não seria nenhum escândalo que o PSD votasse a favor, seguido até por uma abstenção do CDS, já que os restantes partidos políticos não se regem pelos interesses nacionais, mas pela oposição sistemática.Então, porque se absteve o PSD? Porque os seus dirigentes considerariam que se trataria de uma desconsideração política perante os militantes que se preparam para eleger um novo líder. Por assuntos de «caserna». Ou seja, por tudo, menos pelo desígnio nacional que enobrece o exercício da política.
Trata-se então de um avanço, ou de um recuo? Porque nestas crónicas eu não me abstenho, ainda assim, considero que se trata de um avanço pois, tenho esperança, ainda que ténue, que tal aprovação do PEC possa representar a constituição de uma base de entendimento para credibilizar a imagem de Portugal perante os mercados nacionais, mesmo num momento em que a República acaba de sofrer um downgrade na notação de rating da agência Fitch, agora para AA-.
«É, sem dúvida, próprio do homem enganar-se na escolha das companhias, mas também o é não dar facilmente o braço a torcer», Alain, pseud. de Émile-Auguste Chartier
Os pilotos da TAP desconvocaram a greve inicialmente marcada para a semana da Páscoa. Não creio que fiquem isentos dos prejuízos que tal aviso de greve tenha causado, uma vez que muitos decidiram alterar os seus planos com os consequentes danos junto de operadores turísticos. Ainda assim, a mão na consciência que tal «volte-face» representa constitui um avanço. Quanto mais não seja no reconhecimento de que o caminho não era aquele. Muito menos nestes tempos difíceis.
Recuos
«O prudente, da afronta toma aviso»,
Provérbio Popular
A Fitch Ratings decidiu proceder a um downgrade do rating da República Portuguesa para AA-. Ficamos agora com a mesma notação de países como a Itália, Irlanda ou Chipre. Não é um bom «cartão de visita», e muito menos se trata de uma boa notícia, uma vez que os mercados internacionais avaliam a reputação do país, entre outros, por avaliações dos riscos da dívida soberana.
Encaremos, no entanto, este facto por um prisma positivo: na falta de maior rigor interno na gestão das contas públicas, pelo menos, as agências de rating têm a virtude de pressionar no sentido da credibilidade. Se o aviso for colhido com seriedade, a juntar-se a outros, pressionará a classe política para se alinhar por uma gestão mais adequada do país. Será mais prudente.
Quadro Resumo da semana
AVANÇOS
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RECUOS
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Balanço da semana
AVANÇO – A voz da consciência falou mais alto na semana. Afinal, está desconvocada a greve dos pilotos da TAP, e temos acordo para o PEC. Portugal beneficiou do bom senso. E agradece.
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