26 de setembro de 2008

Histórias de Marca

Foto ilustrativa


 


De acordo com a Associação Portuguesa de Empresas Familiares, APEF, no actual contexto europeu as empresas familiares representam uma importante fatia do tecido empresarial. Cerca de 70 por cento do total das empresas europeias são familiares, gerando cerca de 60 por cento da riqueza criada e responsáveis por 50 por cento do emprego oferecido.



Já se tivermos em conta os dados da APEF para Portugal, a empresas familiares ocupam 80 por cento do seu tecido empresarial. Contudo, apenas 30 por cento destas empresas acaba por ultrapassar a barreira da primeira geração. Número que cai para metade se apontarmos para o patamar da segunda geração. Só 10 a 15 por cento lá chega.



Neste panorama, não serão assim tantas as famílias portuguesas que podem colocar ao lado da sua árvore genealógica o percurso de uma empresa. Aqui, e em tons de exemplo de sucesso, traçamos um pouco da história de três marcas portuguesas que ao longo dos tempos têm permanecido “entre família”.



Até onde chegam os rebuçados Dr.Bayard?
Pelo nome pode não parecer, mas a empresa é nacional. Fundada em Lisboa em 1949, a sua história leva-nos a uma época de guerra e refugiados. Corria o ano de 1939, e com o início da Segunda Guerra Mundial, a capital portuguesa enchia-se de refugiados. Um deles, aquele que viria a dar a Álvaro Matias – o fundador da empresa – a receita dos rebuçados para a tosse: um francês, o Dr. Bayard.



Álvaro Matias trabalhava então numa mercearia de Lisboa. A mesma onde a amizade com o refugiado francês ganhou força durante os anos em que este esteve Portugal, até ao final da Guerra. É no seu regresso a casa que antes de partir Dr. Bayard entrega ao amigo marçano, como agradecimento, a receita para os rebuçados peitorais que costumava vender na sua farmácia em França. Fórmula que se manteria inalterável desde então.



Tendo começado com uma produção reduzida e caseira, o sucesso do produto levou rapidamente a uma industrialização. Actualmente a actividade é totalmente mecanizada e a Fábrica de Rebuçados Bayard, Lda., na Amadora, está nas mãos do filho e neto do fundador da empresa: José António e André Matias.



Já a atravessar três gerações, o “segredo bem guardado” para qualidade e sucesso, diz a empresa no site, está “na mistura dos ingredientes, que asseguram as qualidades terapêuticas” e nas “temperaturas e tempos de secagem”.



À semelhança da fórmula que permanece inalterável, também a embalagem destes rebuçados peitorais mantém o mesmo registo, nunca abandonando o facilmente reconhecível logótipo do “homem a tossir”, bem como a frase “onde chegam os rebuçados peitorais do Dr.Bayard”.


 


Am e Bar
É da junção das primeiras sílabas dos dois nomes do fundador da empresa que nasce uma outra marca familiar portuguesa de sucesso. Em 1939, Américo Barbosa fundou no Porto a Ambar, uma empresa dedicada à encadernação de livros. Negócio cuja actividade hoje já se expande aos produtos para escritório, como pastas de arquivo, arquivadores, cadernos e bolsas, ou a material escolar, incluindo mochilas e estojos, bem como a material de utilização pessoal, desde álbuns fotográficos a organizers, e a material para embrulho e livros.



Já depois de toda a infra-estrutura da fábrica da Ambar ter sido completamente reedificada em 1976, devido a um incêndio que destruiu por completo a fábrica em plena laboração, com mais de mil trabalhadores, instalações modernas e uma estrutura informatizada.



Contudo, a sua reconstrução parece ter dado um novo fôlego à família Barbosa, e já na década de 80 e empresa cresce ainda mais e descobre a oportunidade de entrar nos mercados externos. Em 1986 é criada a AMBAR Espanha e começa a alargar-se continuamente o leque de países para onde a marca hoje exporta. Mais de 30.



Actualmente à frente da empresa, Isabel Barbosa, filha do fundador, assume o leme o negócio da família após a morte do seu pai, Américo, em 1996, e é a partir de esta altura que a AMBAR assume a “renovação como palavra-chave”. Com o virar do século a marca procurou reposicionar-se num plano mais próximo do consumidor d tornar-se mais actual, apostando no design e na estética como elementos diferenciadores.



Em 2004, muda de designação para AMBAR – Ideias no Papel, SA. e arranca com uma estratégia baseada em três eixos: “Investigação e Desenvolvimento”, tendo os “investimentos em Marketing e Comunicação” como “primordiais” para a marca, bem como a consolidação e crescimento do seu mercado de exportação. Este último através da “adaptação dos produtos aos consumidores estrangeiros” com o “design apelativo e a elevada qualidade”.



José Maria da Fonseca
São poucas as empresas que podem dizer estar “entre família” há seis gerações. Na verdade, a José Maria Fonseca á a casa vinícola mais antiga de Portugal. A operar desde 1834, fundada pelo homem que lhe deu o nome, a empresa teve desde sempre o cunho empreendedor do seu criador: um jovem nascido em Nelas, que se formara em matemática em Coimbra, para depois se dedicar ao negócio do vinho, na margem sul do Tejo, em Vila Nogueira de Azeitão.



É aqui que o fundador da JMF introduz pela primeira vez na indústria do vinho portuguesa aspectos como a utilização do arado nas vinhas, ou até a comercialização do vinho em garrafas. Um espírito inovador que o levaria a ser também pioneiro na criação de marcas. Em 1849 cria a insígnia Moscatel de Setúbal, em 1950 a Periquita, ainda hoje existentes, e em 1866 a Palmela Superior.



Com o crescimento das vendas e da exportação, a JMF encontra no Brasil um mercado forte e chega mesmo a ter uma delegação no Rio de Janeiro. Na verdade, as Américas são na história da empresa marcos de conquistas. Mais a norte, nos EUA, a marca Lancers da JMF encontrou um forte sucesso junto de um mercado pós-guerra e pouco conhecedor de vinhos. Foi levado para lá por um americano que visitou Portugal na procura de um rosé fácil de beber, que cativasse o consumidor e que tivesse uma embalagem facilmente identificável. No final dos anos 60, o mercado norte-americano consumia mais de um milhão de caixas Lancers.



É então o sucesso do Lancers e a consequente consolidação da marca que impulsionam a empresa para a criação de novos vinhos, seguidos do aparecimento de várias outras marcas e da aposta noutros tantos mercados. Tanto, que hoje a JMF se apresenta em mais de 50 mercados mundiais, com mais de 30 marcas. Uma das últimas, a Septimus, que celebra a sétima geração da família, já a preparar-se para entrar no negócio.

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