5 de março de 2008

Dossiê

Vídeo: Um exemplo de product placement


 


A Sumol vai associar-se à série Morangos Com Açúcar para promover a imagem renovada do Sumol Morango. O produto foi criado a pensar nos fãs da novela juvenil e aparece em cenas criadas especificamente para ele. Uma acção que se insere na política de product placement da marca e cujos investimentos não são revelados.



 


A presença do refrigerante numa série ficcionada é apenas mais um exemplo de como as marcas estão a explorar novas formas de publicitar eficazmente os seus produtos.


 


O product placement, termo utilizado para descrever a exposição de marcas, com uma mensagem paga e planeada, dentro de filmes ou programas de televisão, é uma técnica de marketing cada vez mais utilizada por anunciantes, produtoras e canais de televisão. E os consumidores parecem estar a aceitar bem.


 


Floribella, product placement em horário nobre


Em tempo de Verão e brincadeiras na piscina, Floribella só deixava as crianças irem para o ar livre depois de uma sessão pedagógica sobre os benefícios do protector solar. De início, contrariados, os petizes untavam-se da cabeça aos pés com o produto e pelas mãos de todas as personagens circulava explicitamente uma embalagem de Ambre Solaire.


 


De acordo com Rita Corrêa Mendes, gestora de marketing da Garnier, “o product placement foi um dos meios adequados que a marca encontrou para falar directamente ao target mais jovem”. “Para que a mensagem fosse assimilada da melhor forma, deveria por um lado existir um contexto infantil/juvenil, e por outro ser aplicado em e por crianças e jovens, para haver uma maior empatia. Estes critérios ajudaram-nos sem dúvida a veicular a mensagem”, explica a responsável pelo marketing da Garnier, que também não revela os valores investidos nesta campanha.


 


Foi precisamente para avaliar o impacto do product placement na atitude do consumidor, que José Dias, profissional na área do marketing e comunicação e ex-docente de relações públicas, partiu do caso Floribella e elaborou a sua tese de mestrado “Os Vilões e os Heróis”. As conclusões vieram derrubar alguns lugares-comuns.


 


De acordo com a investigação, os espectadores/consumidores não se identificam apenas com os heróis da história. Um produto também pode vender se estiver associado a um vilão. “(…) Os profissionais envolvidos deverão tentar prever o tipo de identificação proporcionada pelas personagens envolvidas com as marcas e não apenas se a personagem tem características positivas ou negativas. Os resultados obtidos indiciam a eficácia da utilização de personagens-vilãs, desde que exista identificação entre o consumidor e a personagem”, defende José Dias na sua tese.


 


Apesar de se adivinhar uma relação cada vez mais consolidada entre a indústria da ficção e os anunciantes, em que as personagens vão sendo criadas e medidas conforme o seu impacto no público, José Dias deixa o alerta para os profissionais da área. O product placement funciona junto dos consumidores leais à marca, pelo que “poderá não ser apropriado a lançamentos de produtos ou para marcas que não tenham ainda um nível mínimo de notoriedade.”


 


Veet, um caso ambíguo


No intervalo da famosa série Morangos com Açúcar, aparecia, em 2005, um anúncio a um depilatório da Veet, reproduzindo uma conversa de balneário entre duas raparigas. Até aí, nada era fora do comum. O que então chamou a atenção de alguns críticos, como Maria Filomena Mónica, foi a reprodução dessa cena ser feita com duas personagens da série “sem separador claro” entre o episódio e o bloco publicitário, levando a uma possível associação entre personagens.


 


A questão impõe-se: estamos perante uma situação de product placement ou diante de um mero conteúdo publicitário? José Dias admite a ambiguidade do formato, mas defende que “formalmente, estamos perante publicidade, porque o product placement vai dentro dos programas e naquele caso a marca é exposta no bloco publicitário. O que acontecia é que muitas pessoas não se apercebiam disso”.


 


Para o especialista em product placement, este “é um formato que a TVI decidiu comercializar, em que diz que aquele filme é publicidade, mas permite que se associe as personagens da novela a guiões feitos pela agência. O anúncio respeita os conteúdos da novela, tem de estar relacionado com a história, mas conta para o tempo de publicidade.”


 



 







José Dias


José Dias é o director executivo da Cool Media, uma empresa especializada em comunicação, publicidade e product placement. No seu currículo, conta com um ano na docência de Relações Públicas, na Universidade Independente, e uma vasta experiência na direcção comercial da RTP. Em 2007, no âmbito de um mestrado em Marketing, no ISCTE, elaborou uma tese sobre product placement.

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelasA publicidade entrou na ficção. As marcas estão a aderir ao product placement, preferindo as novelas juvenis para chegar ao seu público-alvo.

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