De que líderes necessitamos num mundo de incerteza? Foi com esta questão que se iniciou a sessão da tarde da 1ª edição do Leadership Summit Lisbon, que decorreu durante o dia de hoje no Centro de Congressos de Lisboa. Sérgio do Monte Lee, líder em diversas áreas na consultora Deloitte, começou por questionar a audiência se a liderança é, de facto, importante. E parece que sim. De acordo com vários estudos realizados pela empresa, as companhias que demonstram ter lideranças capazes são aquelas que registam uma melhor performance entre todas as organizações.
Mas o que trouxe Sérgio à conferência promovida pela Tema Central e Global Shapers foi esclarecer a audiência sobre se hoje estamos perante uma liderança disruptiva. Sérgio começou por mostrar que no ano passado as 5 maiores empresas do mundo foram companhias tecnológicas. Há cada vez uma maior disrupção nos processos e nos negócios, e realmente estamos num contexto disruptivo. Ainda assim, a liderança continua a ser a mesma, uma vez que apresenta as mesmas características essenciais. O líder de hoje, tal como no passado, tem que mostrar inteligência, capacidade de gerir com sucesso a sua relação com parceiros e stakeholders, conseguir estabelecer uma estratégia, ter visão de negócio e ter capacidade empreendedora. Estamos pois, não perante uma liderança disruptiva, mas sim, perante uma liderança em evolução, qualquer coisa como uma liderança 4.0.
Ainda de acordo com Sérgio, apesar da essência da liderança ser a mesma, o nível de proficiência é muito mais difícil. Num momento em que o tempo de permanência das pessoas nas organizações está a diminuir (atualmente ronda os 4/5 anos), os líderes têm de conseguir reter os melhores talentos. A questão, portanto, que se impõe é esta: como é que os líderes se podem preparar neste contexto difícil? O responsável da Deloitte considera que o segredo é ganhar agilidade, e não centralizar tudo nos líderes.
Entre os diversos speakers desta tarde esteve também em destaque Francisco Goiana da Silva. O jovem médico de 28 anos aproveitou a oportunidade para falar um pouco do impacto dos Global Shapers, uma comunidade global da qual faz parte, e que tem como objetivo reunir jovens líderes de diferentes áreas da sociedade para discutirem e influenciarem as políticas dos respetivos países. Para se pertencer a esta rede é necessário fazer algo com relevância para a sociedade, ter-se evidenciado na sua área e mostrar uma visão de futuro. No fundo, Francisco realçou a ideia de que os jovens com menos de 30 anos podem e devem discutir o futuro da sociedade, influenciando os líderes com as suas ideias e visões. O médico desafiou mesmo os presentes na audiência para escutarem os estagiários das suas empresas, não os menosprezarem e conhecerem as suas opiniões, porque as respostas poderão ser surpreendentes.
Durante esta sessão houve espaço para um grande debate, com líderes de diferentes gerações e setores de atividade. Entre eles esteve Rui Ferreira, presidente-executivo da Unicer, que reforçou a ideia de que os princípios da liderança hoje são os mesmos do passado, com a diferença de que nos movemos num contexto completamente diferente. Cada vez mais o que se pede é agilidade e adaptabilidade a quem lidera uma companhia. Por sua vez, José Miguel Leonardo, Presidente-Executivo da Randstad Portugal, afirma que a liderança tem de ser debatida e discutida, tendo em conta as gerações tão diversas que hoje convivem numa mesma empresa. A liderança tem de ser adaptada a cada momento, lugar e propósito, uma vez que numa empresa podemos ter jovens de 25 anos como profissionais muito experientes. A necessidade de moldar o estilo de liderança a esta nova realidade é fundamental.
À questão lançada pelo moderador Paulo Ferreira sobre se a palavra carreira hoje faz sentido ser utilizada, Cristina Fonseca, co-fundadora da startup Talkdesk (plataforma que permite criar um call center em poucos minutos e integrá-lo com uma variedade de ferramentas de negócio), respondeu positivamente, frisando, no entanto que atualmente as pessoas procuram uma empresa pelo desafio e oportunidades de crescimento. É natural que cada vez falemos mais em “carreiras” e não só numa “carreira”. O que se procura é evolução, independentemente do local onde possamos trabalhar. “O que nós precisamos é algo mais do que o salário ao final do mês. Queremos sentir que a nossa missão está alinhada com a missão da empresa”, evidenciou.
E será que hoje as grandes empresas não são apelativas para os jovens? Inês Santos Silva, que com 28 anos tem sido uma das jovens mais ativas e dinamizadoras do ecossistema de empreendedorismo nacional, considera que não. O que as pessoas querem é sentir que existe um propósito no seu trabalho, que são desafiadas, ouvidas e que aquilo que dizem tem impacto nas decisões das empresas. Se isso acontecer é natural que essas pessoas fiquem durante mais tempo nessas companhias. Rui Ferreira referiu logo depois que estamos perante gerações mais exigentes, que procuram ser felizes e que o contexto da empresa tem de ser adaptar precisamente a isso. No caso particular da Unicer, o responsável revela que a forma de entenderem os mais jovens é trazer líderes também mais novos para o centro das decisões. A política de recrutamento da empresa tem seguido precisamente esta linha, pois assim conseguem ir mais facilmente ao encontro das expectativas destas gerações. José Miguel Leonardo aproveitou ainda para alertar a audiência de que a liderança não é um posto, mas sim o resultado da experiência que se adquire, e deve ser algo transversal a toda a empresa. Um bom líder tem de ser um bom gestor e ter a capacidade de ceder o poder a outros. É isso que é necessário para romper com o histórico da típica liderança, que não partilha e que cria descontinuidade.
Em suma, desta tarde retém-se a ideia que o modelo de liderança continua a ter hoje a mesma essência, apenas com desafios e necessidades diferentes face a um novo contexto mais exigente.
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