8 de novembro de 2012

Como reinventar a televisão e a experiência da televisão?

Perante as novas tendências de consumo dos media e uma perda constante de audiências, com consequências na captação de investimentos publicitários, a industria da televisão portuguesa procura respostas para acompanhar estas transformações num contexto económico difícil, que limita a capacidade de investimento, na readaptação destas empresas, não só ao nível tecnológico como também ao nível das suas estruturas.

Para os principais operadores do setor da televisão em Portugal, o momento é exigente. Francisco Pinto Balsemão, Presidente do Grupo Impresa, no âmbito da Conferência “Media do Futuro 2012” realçou mais uma vez a importância do papel dos media e do jornalismo profissional e independente em tempos de crise e alerta para a degradação da qualidade, face a uma constante perda de investimento no setor. O futuro dos media, na sua opinião, depende da quantidade de publicidade que será atribuída ao concessionário do canal publico de televisão, bem como da regulamentação do domínio das receitas publicitárias por parte dos agregadores de conteúdos digitais, como o Google, à semelhança do que está a ser feito em países como a Alemanha e mais recentemente em França, criando leis que obriguem estes agregadores a dar parte destas receitas aos editores.

Os números mais recentes sobre as receitas publicitárias nos meios em Portugal, confirmam uma quebra de 18%, desde outubro de 2011, ou seja, menos 67,7 milhões de euros. Apenas o online regista uma subida na captação de investimento. Um cenário que segundo o Diretor de Informação da TVI, José Alberto Carvalho, impõem novos modelos de trabalho para as televisões, uma forma diferente de produzir conteúdos, fazendo com menos dinheiro muito mais. E perante os números explosivos de uploads e downloads de conteúdos nos meios digitais, se há uma oportunidade, “um futuro grandioso para o jornalismo” na organização deste caos de informação, existe também um grande desafio: “saber afinal o que as pessoas querem ou não querem ver”.

“Flexibilidade e Integração”

Marcel Fenez, líder Global da área de Entretenimento & Media, da PWC, um dos oradores convidados para a Conferência Media do Futuro 2012, acredita que o que as pessoas querem é: ver conteúdos em vídeo, em diferentes ecrãs, em qualquer momento e querem também partilhar. Mas esta realidade tão normal nos meios digitais, não deve ser entendida como a “morte” de uma meio tradicional como a televisão. É, isso sim, necessário reinventar a experiencia da televisão à luz das mudanças do consumidor nos últimos tempos. Para este especialista, o consumidor controla hoje mais do que nunca a informação, é criador de conteúdos e é multiplataformas. A indústria de televisão deve caminhar para a “flexibilidade” e maior “integração”. Uma flexibilidade ao nível dos conteúdos, na escolha dos modelos de pagamento e distribuição. Deve apostar na distribuição, numa rede onde todos têm acesso e em multiplataformas, sendo também muito importante ao nível da monotorização conhecer o seu target e segmentar para trabalhar com as marcas uma comunicação publicitária eficaz.

A indústria de televisão nacional acredita que está no entanto a dar alguns passos para tentar acompanhar as rápidas transformações de consumo dos media. Luís Marques, Administrador Editorial do Grupo Impresa, afirma que o negócio hoje está concentrado na produção de conteúdos e o foco deve ser no conhecimento da audiência. A estratégia tem passado pela segmentação da oferta e na sua distribuição de forma integrada. Também o serviço público de televisão, segundo Luís Marinho, Diretor Geral de Conteúdos da RTP, tem vindo a fazer o seu caminho na reestruturação da sua atividade e acredita que, com o fenómeno das redes sociais, o ato de ver televisão é “isolado” aparentemente, por isso considera que é necessário continuar a agregar audiências em torno de um programa, mantendo a interatividade. A resposta da TVI, para José Alberto Carvalho, está também numa nova dinâmica de integração no trabalho das equipas que produzem conteúdos para os diferentes meios.

A inovação do negócio passa pela televisão interativa

Um consumidor mais digital, mais móvel, mais interativo e multi-ecrãs precisa de uma nova resposta por parte dos produtores de conteúdos, para atrair também mais investimento publicitário. Para Zeinal Bava, o Presidente Executivo da PT, a televisão interativa é já uma proposta interessante para o setor e deu o exemplo recente da parceria com o Grupo Impresa, com a SIC Notícias, o primeiro canal de notícias interativo, com conteúdos exclusivos que complementam a emissão em direto. O Presidente Executivo da PT apresenta alguns dados sobre o sucesso desta nova experiencia de ver televisão, afirmando que os canais interativos estão mesmo no top 5 das audiências do MEO. A inovação do negócio para uma maior captação de investimento publicitário, segundo Zeinal Bava, pode ser inspirada na internet, com a criação de campanhas mais interativas e cuja eficácia da comunicação é mais fácil de medir.

Há uma visão de que este caminho da reinvenção da televisão depende também de um trabalho conjunto entre distribuidores e fornecedores de tecnologia com os produtores de conteúdos. O objetivo deve ser o de facilitar o acesso dos utilizadores aos conteúdos, na opinião de António Carriço, Diretor de Marca e Comunicação da Vodafone Portugal, a diferenciação entre os operadores deve ser feita com outros critério, que não passem pela exclusividade de conteúdos nas suas plataformas, por outro lado, acredita que os utilizadores no futuro tendem a estar mais dispostos a pagar por alguns conteúdos editoriais, cuja relevância e qualidade sejam reconhecidas. O futuro ainda levanta muitas questões, mas uma coisa parece certa, o consumo dos media entrou numa mudança irreversível e a caixinha mágica tem mesmo que reencontrar o brilho de outrora, junto das audiências.

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Jornalista: Maria José Martins; Imagem: Luís Magalhães; Edição: Rui Rodrigues

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