3 de fevereiro de 2016

Como liderar num mundo virado de pernas para o ar?

Começamos pelo final. A audiência já se preparava para sair, mas o som de David Bowie prendeu-os à cadeira. Henrique Feist cantava “Changes”, a última canção interpretada ao vivo pelo cantor britânico antes da sua retirada do mundo dos concertos em 2006, para fechar com chave de ouro a Porto Business School Grand Conference, que este ano levou ao palco o tema da Liderança. A música não podia ser mais apropriada. Não pela recente partida de um enorme líder da música, mas sim porque durante toda a tarde de ontem se falou de mudança.

A nova era em que vivemos obriga a isso mesmo e é nela que cabe a visão de 3 grandes oradores: Frans Johansson, Kevin Roberts e Alain de Botton. Vindos da Suécia, Estados Unidos e Suíça, respetivamente, e de grandes empresas, entre as quais a Saatchi & Saatchi. Trouxeram para as cerca de mil pessoas presentes ideias fortes e consistentes, que nos levam a querer saber mais sobre o que se fala por aí de liderança para o futuro e mais além.

Frans Johansson, especialista na área da inovação e autor do best-seller “The Medici Effect”, começou por explicar ao público que, num mundo em constante mutação, para se ter sucesso é preciso ter capacidade de acompanhar esse novo mundo e estar aberto a oportunidades inesperadas. E é aqui que aparece a ideia de “interseções”. Frans acredita que é no cruzamento de ideias provenientes de diferentes culturas, indústrias e áreas que se surgem as inovações. “Tens que te inspirar em áreas completamente diferentes da tua. Tens que te rodear de pessoas diferentes. Quando fizeres isso irás fazer novas conexões com significado”, explicou o especialista, em entrevista ao Imagens de Marca.

Kevin Roberts, Presidente Executivo da Saatchi & Saatchi, partilhou a sua experiência sobre o impacto da liderança criativa na gestão das organizações, defendendo que um bom líder tem que construir uma cultura empresarial baseada em 4 aspetos: responsabilidade, aprendizagem, reconhecimento e alegria. “Eu penso que os líderes têm que construir uma empresa, onde as ideias estão no centro, têm que criar uma cultura criativa, têm que construir uma cultura onde possas falhar, aprender e resolver, e não ser punido e culpado. Só assim terás uma cultura criativa, e muitas, muitas ideias”, afirmou. O responsável da Saatchi & Saatchi aproveitou para referir que a tarefa de um líder é transformar o chamado “VUCA – Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous – World” num mundo vibrante, irreal, louco e surpreendente. Para as empresas a única forma de terem sucesso nestes tempos tão imprevisíveis é criar uma verdadeira ligação emocional com os consumidores, envolvendo-os em autênticos movimentos em torno das marcas. “Hoje não se pode construir apenas awareness, não podes despejar informação. Tens de envolvê-los imediatamente, eles querem gratificação instantânea”, referiu.

A fechar a Grand Conference esteve o conhecido “filósofo da vida quotidiana” e fundador da “The School of Life”, Alain de Botton, que trouxe para debate a importância do capitalismo. Perante as críticas que as pessoas fazem habitualmente ao capitalismo, por este não estar a satisfazer aquilo que elas realmente necessitam, o escritor defende que o caminho passa pelo preenchimento das necessidades mais elevadas. “O capitalismo tem que procurar satisfazer as necessidades mais profundas do ser humano. Não apenas necessidades, como ter automóveis mais velozes ou chocolates, mas necessidades como amor, amizade, carinho e realização pessoal”. Uma prova de que as empresas estão semiconscientes desta realidade é a publicidade. As mensagens dirigem-se sempre às necessidades mais elevadas, mesmo quando o objetivo é venderem-se produtos para as necessidades básicas. O problema é o facto de os produtos não acompanharem a publicidade. “Acho que se tem de reduzir o «gap» entre a publicidade e o produto. O produto deveria aproximar-se da publicidade, porque a publicidade baseia-se em desejos psicológicos, e muito frequentemente os produto não têm capacidade de satisfazer”, considera. Alain de Botton realça que a missão do capitalismo é fazer as pessoas felizes, e que os líderes de hoje têm também um papel fundamental nesse processo. Descubra a sua visão na entrevista concedida ao Imagens de Marca.

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Jornalista: Francisco Branco com Cristina Amaro; Imagem: Bruno Tibério; Edição: Luís Lopes

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