Uma questão de bom senso

24 de fevereiro de 2012

Uma questão de bom senso

António Mello, Publicitário

“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”

Não sendo um grande admirador/leitor de Saramago reconheço naturalmente o seu valor e cotação no mercado do livro.

Esta citação foi colocada como post no Facebook e fez-me pensar na importância e no papel da publicidade, nesta pausa consumista que nos atinge e que está aí para durar.

Muito se tem escrito e dito sobre a publicidade. Considerada a “má da fita” e a responsável pelo materialismo e egoísmo que caracteriza muito as sociedades modernas.

Sociedades onde o ter é que interessa e não tanto o ser. Sociedades que estimulam a diferença, assente nas posses de cada um. Desde o Iphone 4S ao novo VW Beetle.

Sempre foi assim e sempre será assim. É a natureza humana e isso não vai mudar nunca.

Nem com a melhor campanha do mundo, saída das melhores mentes criativas. Na vida dita normal, todos nós gostamos de nos fazer valer. Gostamos de sair por cima. Gostamos de ganhar e gostamos de ser melhor que o outro.

Isso é assim nas opiniões, nas discussões, na profissão e no desporto.
Em tudo na vida, em ambiente concorrencial, porque é disso que se trata, queremos sempre ser melhor que o outro.

A questão de fundo é que tipo de Publicidade deve ser feita.

O que se diz / IDEIA
Como se diz / TOM
A quem se diz / TARGET
Onde se diz / MEIOS
Quando se diz / MOMENTO
E quanto se diz / FREQUÊNCIA

Parece fácil mas não é. Estes factores são indissociáveis e a sua combinação é crítica.

O que diz Saramago é bem verdade.
E os publicitários, que supostamente falam a linguagem do consumidor e o conhecem melhor que ninguém (clientes incluidos) têm a obrigação e são pagos para isso, de saber interpretar com inteligência, o que diz o nobel da literatura.

Acredito piamente nas boas Ideias e acredito nas Marcas. E também acredito que a má publicidade empurra as Marcas para o abismo.

Hoje, o consumidor é receptor de milhares de mensagens diárias e nestes tempos de incerteza, em que a sua cabeça está cheia de dúvidas, receios, medos e más noticias, não sobra muito espaço para a publicidade penetrar e cumprir o seu papel.

Sabemos que o consumidor rejeita, por norma a Publicidade e olha para ela com cepticismo e até cinismo, pois percebe que a Marca o está a tentar convencer, ou mesmo comprar.

Não gosta de ser agredido, não gosta de poluição visual, e não gosta de ser interrompido.

E a publicidade é isso mesmo. Uma interrupção que nos é imposta e que se intromete no meio dos nossos sentidos quando lemos uma revista, ouvimos rádio, vimos televisão, navegamos “online” ou apreciamos uma paisagem.

Não quer dizer que ela deixou de funcionar, até porque as Marcas com campanhas Criativas, assentes em grandes Ideias terão sempre a adesão dos seus fans. Perdeu foi eficácia, por razões bem conhecidas.

Os consumidores não podem ser colónias utilizadoras de produtos. Os consumidores têm que ser fans das Marcas. Portanto, a Publicidade, em vez de Convencer, tem que Seduzir. Tem que ser inteligente, subtil e deve acima de tudo entreter. E aí passa a ser uma interrupção bem-vinda, positiva e agradável.

A Publicidade deve ser “como quem não quer a coisa”.

Resulta mais.

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Comentários (3)

  1. Quite

    P.S. Please review our icons for Windows and windows13icons.

    por: google image gallery,

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