Querido Guilherme do ‘11 por todos, todos por 11’

13 de julho de 2012

Querido Guilherme do ‘11 por todos, todos por 11’

Depois de ouvir atentamente a tua carta à selecção nacional, decidi escrever-te esta missiva.

Tenho 45 anos. Nasci 6 anos antes da Revolução de Abril pelo que já não cheguei a sentir a plenitude da ditadura, em que Portugal viveu durante as décadas que antecederam o meu advento, e escrevo-te porque confesso que ao ouvir a tua carta fiquei assustado.

Fiquei assustado porque acredito firmemente que, da minha geração para cima, os portugueses, fustigados pela tal ditadura que os impediu de evoluir, tornaram-se mansos e manipuláveis, foram mantidos num estado de ignorância e iliteracia, receosos de manifestarem os seus reais desagrados e por isso, iludidos com uma amostra de Democracia, vão perpetuando governações sucessivas de chico-espertos, mal-formados, corruptos e inaptos que puseram Portugal neste estado, com o consentimento generalizado de uma população que a única coisa que entretanto aprendeu, foi como protestar, de formas mais ou menos organizadas, mais ou menos colectivas e mais ou menos barulhentas, mas todas igualmente ineficazes.

Como pai de 5 filhos, ‘mentor’ e professor de muitas pessoas jovens como tu, aquela a que chamo carinhosamente a geração ‘squirrel’ (porque tal como o cão do filme UP, tem dificuldade em concentrar-se num só assunto de cada vez), tenho observado que vocês já não são como nós, as pessoas mais velhas como eu. Tem menos medos. Tem mais consciência dos vossos direitos e deveres e não se deixam espezinhar com a mesma facilidade que as gerações mais velhas. Tem mais formação e informação, são mais cultos, vêem mais, ouvem mais, sabem mais, pensam mais e melhor. Enquanto nós pensamos ‘em série’, vocês conseguem pensar ‘em paralelo’.

Acredito que andem assustados, porque a herança que vos estamos a deixar é feia e pesadona, mas vejo-vos crescer de perto e tenho a certeza que assim que perceberem que o vosso futuro não depende de mais ninguém a não ser de vocês mesmos, tudo ficará bem e quero acreditar que todos vão lutar com todas as forças para criar novos caminhos, muito mais giros, muito mais interessantes, muito mais realistas, para termos um povo e um sistema à altura deste cantinho geograficamente abençoado.

Não dependas de futebóis, de espanhóis, de rissóis, de girassóis, de cowboys e de ‘jobs for the boys’ para decidir se ficas, se emigras, se tiras medicina ou se te dedicas à pintura.

Não esperes por D. Sebastiões e por Quintos Impérios, somos pequeninos e não somos especialmente bons em mais nada que não tenha a ver com petiscos, praia e diversão, mas por exemplo na minha ‘indústria, que é a da criatividade, vejo que quando vos tiram os mais velhos de cima, vocês voam logo mais alto, como provaram a Francisca Oliveira, o Afonso Ferreira, o Nuno Teixeira, o Daniel Soares, o Joaquim Costa e o Ricardo Ferreira, que foram todos premiados no Festival de Cannes deste ano.

Percebes o meu receio quando li a tua carta? Ver-te a ti, que és a minha esperança, a pedir ajuda a outros? Ainda por cima à malta do futebol, que em Portugal assumiu o tal papel que Marx falava e Salazar patrocinava de serem o ‘ópio do povo’?

Como és da geração ‘Squirrel’ e saltaste do título para este parágrafo, resumo aqui o texto todo: Não sejas como nós, os portugueses mais velhos, maricas, resignado e manso, e não fiques à espera que alguém faça alguma coisa por ti. Torna-te dependente só de uma coisa, das tuas capacidades. Faz as coisas à tua maneira e dá lá a volta a isto, que é para eu não ter de emigrar e poder envelhecer tranquilo, neste maravilhoso lugar que tanto amo.

Obrigado Guilherme, todos os jovens por nós e ninguém por todos os jovens

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Comentários (4)

  1. Subscrevo mm estando abaixo dos 40!

    por: Cristina Cardoso,
  2. verdade! o salto do titulo ao ultimo paragrafo…

  3. Um texto importante, e bonito!

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