Perigo! A característica mais partilhada pelos gestores portugueses não é boa
15 de Junho de 2015 em Opinião
Se tivesse que eleger as duas palavras que mais se ouvem nos processos de tomada de decisão nas empresas portuguesas, tenho poucas dúvidas que a primeira seria “sim”. Seguida de perto, da palavra “mas”.
Estas palavras, conjugadas, são utilizadas essencialmente para iniciar uma longa e altamente racionalizada resposta ao porque não se deve fazer algo novo, que a empresa nunca fez antes.
“Sim, é uma ótima ideia, revela um excelente entendimento do nosso mercado, mas o contexto atual não permite investir muitos recursos e quando é assim, mais vale investir em algo seguro, com resultados que apesar de serem reduzidos, se podem prever”.
“Sim, é uma proposta que responde completamente ao nosso desafio e de uma forma diferente à que os consumidores estão habituados e consequentemente, imunes. No entanto, a organização não está preparada para lidar com a mudança que a recomendação implica”.
“Sim, não há dúvida que responde à nossa necessidade de sermos inovadores, mas fazer alguma coisa, assim, que ninguém fez antes…? é muito arriscado e os tempos que se vivem não estão para correr riscos desnecessários…”
Por detrás de cada uma destas respostas está obviamente uma recusa em fazer algo diferente, algo novo que quebre com o status quo. Está no fundo, uma enorme resistência á mudança.
Paradoxalmente, apesar de profissionalmente sermos avessos à mudança, enquanto consumidores somos um povo que demonstra precisamente o contrário. Adoramos adoptar novos comportamentos na relação com o consumo. Temos um grupo anormalmente grande de early adopters, ou seja, gostamos de adoptar a utilização de novas tecnologias.
Consequentemente, porque quando vestimos a pele de consumidores, somos bastante abertos à mudança, a mudança que os negócios enfrentam é bem real. Basta ver como hoje consumimos TV, a forma como utilizamos o telemóvel, como compramos, como aprendemos, ou como queremos até mudar a forma de chamar um táxi.
E no entanto, o gestor português revela uma enorme resistência à mudança. Profissionalmente tenho assistido a este comportamento desde que criei a Excentric em 2006, uma empresa que na altura tinha como missão ajudar as empresas a inovarem na forma de conquistarem os seus clientes. Hoje, depois de uma fusão com a Grey e muitos anos a ouvir “não,” somos mais contidos na nossa missão. O que queremos é ajudar as empresas a lidarem com um mundo que está em constante mudança.
Porquê esta diferença entre o nosso eu profissional e o nosso eu consumidor? A resposta vem talvez num estudo realizado em 2013, pelo professor Geert Hofstede, sobre os impactos culturais na organização das sociedades. Consequentemente, fortes elações podem ser retiradas par a o universo da gestão de empresas. Os resultados do estudo podem ser consultados com maior detalhe aqui [1] e a metodologia pode ser analisada aqui [2] .
Este estudo procura definir os traços culturais que unem um país, ao longo de 6 variáveis: A institucionalização do poder, individualismo, machismo, aversão ao risco, orientação ao longo prazo e indulgência.
Curiosamente (ou não), no que respeita a Portugal, a variável que atingiu o score mais alto foi: Aversão ao risco
Isto significa que a aversão ao risco é o traço mais comum que pode ser encontrado entre os gestores portugueses. É desta aversão ao risco que advém a resistência a mudança. A titulo individual, adoptamos a mudança no consumo pois ela em si não representa risco. Aliás, mudamos porque nos concentramos nas vantagens. Mas quando estamos no papel de gestores, como cada decisão é pautada por incerteza, a aposta em algo que não teve ainda tempo de provar, representa ainda maior incerteza, logo, risco. E como não lidamos bem com risco, resistimos.
É preciso lutar contra isto, caso contrário, podemos estar, sem querer, a condenar as empresas portuguesas ao insucesso. Porquê? porque hoje, mais do que nunca, o mundo dos negócios é Darwiniano e a adaptação à mudança é uma questão imperativa na sobrevivência das empresas.
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