O conteúdo deixa marcas

23 de Novembro de 2017 em Opinião,Opinião

O conteúdo deixa marcas

Não há dúvida de que o conteúdo deixa, sempre deixou e deixará marcas, no sentido em que tem um papel relevante que sustenta e alimenta todo o ecossistema da comunicação. Isso não é novo, sempre assim foi. Diferente são as circunstâncias e a dinâmica que hoje marcam o enquadramento dos conteúdos. E essa mudança qualitativa deve-se à tecnologia e à sua evolução, que afeta estruturalmente a produção, a distribuição e o consumo dos conteúdos. Afeta não só o ritmo a que se processam as mudanças mas o próprio processo em que interage todo o ecossistema; de um processo que era estanque, entre produção, distribuição e consumo, passamos para um processo dinâmico sem fronteiras, em que todos podem fazer tudo e tudo se interliga e converge.

Hoje a grande fatia da produção e consumo de conteúdos está nas plataformas digitais. Nunca se produziram e consumiram tantos conteúdos, como ficou claro no evento “O conteúdo deixa marcas” que o IPG Mediabrands promoveu no dia 22 de novembro. Para tentar sistematizar melhor a importância dos conteúdos, e o que hoje os pode condicionar, quer positivamente, quer negativamente, evidenciam-se 5 grandes tópicos, que abordam diferentes aspetos do mundo dos conteúdos e que estão também interligados entre si:

  1. A necessidade de reforçar a identidade e credibilidade dos media, em prol dos conteúdos de qualidade combatendo a praga das “fake news” que hoje, por via das plataformas sociais, ganharam uma dimensão preocupante;
  2. Conseguir um bom equilíbrio entre DATA e Criatividade. A Tecnologia terá de ser um facilitador e a DATA uma ajuda a potenciar o efeito da criatividade e das ideias e não condicioná-las ao status quo. As ideias para serem disruptivas e inovadoras não podem ter freios na sua conceção e criação, mas todo o contributo ao nível de insights e DATA é bem-vindo no sentido de ajudar e enriquecer o conhecimento. É de bom senso procurar o equilíbrio necessário entre a componente analítica e emocional sendo que na base estará sempre a ideia. Não há uma fórmula única e cada caso é um caso que o bom senso ajudará a gerir;
  3. A capacidade de adaptação dos players portugueses, de modo a que se posicionem num ecossistema que está em profunda mudança. A movimentação de grandes telecoms e da distribuição de conteúdos na aquisição de publishers e produtores implica uma mudança de paradigma com impacto direto nos modelos de negócio, assentes cada vez mais em conteúdos pagos;
  4. A produção de conteúdos é generalizada e aberta. Grupos de media, marcas e figuras públicas criam e distribuem os seus próprios conteúdos, competindo cada vez mais com a produção independente com ou sem profissionalização e que ganha cada vez mais relevância (os Youtubers são um bom exemplo). A abordagem das marcas mediante uma oferta cada vez mais diversa e dispersa é um desafio cada vez maior;
  5. O papel da tecnologia na produção alcance, distribuição e personalização dos conteúdos. Machine Learning, Advanced Tech, Live video streaming, mobile optimization, artificial intelligence, virtual and augmented reality são tendências tecnológicas que vão ter, já no curto/médio prazo, impacto em toda a indústria de conteúdos, obrigando a estratégias focadas nos conteúdos.

O nosso País é um mercado de pequena dimensão e sem escala. Isso não invalida que não nos confrontemos com os mesmos condicionalismos e com as mesmas oportunidades. Localmente produzem-se muitos e excelentes conteúdos. Temos a dinâmica de abraçar os avanços tecnológicos, temos a tecnologia e infraestruturas, temos o talento e a capacidade técnica e criativa de tirar partido da tecnologia e somos competitivos nas componentes de custo associadas à criação e produção de conteúdos.

Portugal tem condições de ser um HUB competitivo e relevante na criação e produção de conteúdos e com isso ultrapassar as limitações de escala. Vivemos num mundo global e os nossos conteúdos já hoje competem com o resto do mundo, mesmo se confinados ao nosso mercado. Cabe-nos a todos os intervenientes no ecossistema dos conteúdos (produtores, criadores, distribuidores, utilizadores, consultores) trabalhar em conjunto para tirar partido das oportunidades e minimizar ou limitar todos os riscos e condicionalismos associados a este novo paradigma.  

Alberto Rui Pereira, CEO IPGMediabrands Portugal

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