O 25 de Abril do Mecenato

24 de março de 2014

O 25 de Abril do Mecenato

Miguel Rangel, Director-Geral NUTRE Ind. Alimentares

Há algumas semanas foi polémica a sugestão lançada pela Presidente da Assembleia da República para que algumas iniciativas incluídas nas Comemorações do 40º aniversário do 25 Abril fossem apoiadas por outras entidades, que não o Estado, ao abrigo de Mecenato. Creio que 40 anos de democracia deveria ser tempo suficiente para que este tipo de ideias não levantassem as objeções que surgiram entretanto. Numa democracia madura, descomplexada e sem preconceitos, não deveria haver o receio de que a vontade de cidadãos ou empresas em apoiar iniciativas públicas sejam vistas como unicamente para satisfazer interesses “lobistas”.

São centenários nos países ocidentais os exemplos de apoios Mecenáticos a diferentes áreas das sociedades como as artes, o desporto, a ciência, a literatura, o ensino, entre dezenas de outros exemplos sem que isso ponha em causa os propósitos principais da existência das iniciativas.

O contexto económico que hoje vivemos mais sugere e requer que este tipo de iniciativas publico-privadas existam, mas isso não deve significar uma subserviência das entidades públicas beneficiárias perante os Mecenas; nem tão pouco uma redução no escrupuloso e rigoroso cumprimento das leis e da transparência dos processos.

As marcas, e os gestores destas, devem também ter consciência do seu valor nas sociedades muitas vezes avaliado, não só no produto ou serviço “core” da sua actividade, mas também na sua actuação sócio-política para além desse território.

Por outro lado, a classe política, se pretende evoluir no sentido de uma aproximação crescente à sociedade e se pretende estar a par dos cidadãos, deverá ser capaz de provar que os receios de mistura de propósitos dos apoios são infundados, dando assim provas de uma maturidade que uma sociedade com 40 anos de democracia deve ter.

Na minha opinião, a sociedade portuguesa não deveria fechar o debate sobre este tema, mas antes abri-lo à discussão pública e franca, pois estou em crer que existem mais pontos a unir do que a separar o interesse em apoiar causas públicas por parte da sociedade civil.

A conjugação entre a sociedade civil e os orgãos de soberania deveria permitir que “coisas aconteçam”, pois no limite, e no fim da linha, os beneficiados são os cidadãos que também são consumidores, que também são clientes, que também são eleitores e que não são mais do que todos nós, e se algo existe para benefício de todos nós, então deve acontecer.

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