Less is More – o Marketing da Singeleza

17 de Março de 2017 em Opinião,Opinião

Less is More – o Marketing da Singeleza

Traduzimos a expressão anglo-saxónica “less is more”, numa única palavra, em português: “singeleza”. Lê-se, no dicionário, ser sinónimo “ausência de ornamentos”, “sem sofisticação”, “em que há simplicidade”. Atribuída, originalmente, ao poeta Robert Browning, remete-nos para uma pintura de Andrea del Sarto, um artista conhecido pelas suas excelentes capacidades técnicas que se traduziam numa pintura quase perfeita mas, ironicamente, destituída de “alma”.

Mas “alma” é, na nossa perspetiva, o que mais carateriza algo “singelo” – que mais não será senão “alma”- remetendo-nos para a essência ou a identidade de um tema através da eliminação de todas as formas, ditas, não essenciais.

Avançamos hoje para uma série de (des) construções de marcas ou de narrativas, procurando evitar tudo o que é fugaz e/ou kitsch, numa busca pela dita singeleza, autenticidade, genuinidade. O mesmo acontece na forma como se promove um destino turístico.

Hoje, na promoção turística de um destino e dos seus produtos endógenos, procura-se uma narrativa, não apenas contemplativa ou meramente platónica, mas que procura contar uma história, a história desse destino, das pessoas que nele habitam, dos seus hábitos e das suas tradições. Procura-se, mediante conhecimento prévio do perfil do turista (caraterísticas e motivações), contar uma história na primeira pessoa, que seja envolvente, emocional e experiencial. A história de um destino faz-se da ancestralidade da sua cultura, mas também da sua contemporaneidade e modernidade, de como cresceu e se desenvolveu, de como se adaptou e de como soube continuar a ser atual, confortável, e capaz de dar as respostas certas às necessidades dos visitantes; de como soube reinventar-se, culturalmente, socialmente, sociologicamente.

Esta é a narrativa do storytelling, assente nas histórias dos pastores, da transumância, do leite, do fabrico artesanal do queijo; assente na história das tradições vitivinícolas, das vindimas, da poda, da pisa das uvas com pés descalços e dos lagares; na história de como se trabalham os produtos para transforma-los em peças úteis, necessárias, para suprir necessidades primárias, mas que, no final, são elas próprias autênticas obras de arte; na forma como aldeias despovoadas, se transformam – numa conjugação de “forças e vontades”, mas sinais evidentes de uma enorme inteligência e sensibilidade – em centros de cultura, atelieres e museus vivos, fontes de desenvolvimento e de sustentabilidade.

E é disto que se trata a personificação do “less is more” ou daquilo a que chamamos o “marketing da singeleza”: conquistamos e somos conquistados pelo que, aos nossos olhos, se apresenta, como único, belo e singular; por aquilo que nos emociona e em nós deixa a sua marca.

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