O Futuro começa hoje!

11 de novembro de 2016

O Futuro começa hoje!

Pedro Manuel Monteiro Machado, Presidente da Entidade Regional Turismo do Centro de Portugal

Escrevo este artigo no rescaldo das eleições presidenciais dos Estados Unidos da América e no final de mais uma edição do World Travel Market (WTM), em Londres. Irónico facto, se atendermos que foi do Reino Unido que surgiu uma das decisões mais polémicas e preocupantes de 2016. Falo, obviamente, do “Brexit”, termo que resulta da fusão de duas palavras inglesas: “britain” (diminutivo de Grã-Bretanha, aka, Reino Únido) e de “exit” (saída). Em termos práticos, trata-se do resultado do referendo em que se votou a saída do Reino Unido da União Europeia.

Ainda que seja uma questão cujos resultados práticos ainda não estão perfeitamente avaliados – em particular, os efeitos económicos e sociais desta medida, para o Reino Unido e para todos os estados membros da União Europeia que com ele negoceiam -, esta tem sido uma “saída” que até à data, não tem afetado, de forma fraturante, relações, movimentações e transações, em particular, no que ao Turismo diz respeito. E é o que se assiste, numa feira como o WTM, onde o mercado inglês continua a dar sinais de crescimento para o destino Portugal.

Para destinos como o Algarve e a Madeira, fortemente dependentes do mercado inglês, ainda que ainda não seja possível avaliar os resultados práticos do Brexit, é evidente a preocupação com a monitorização deste processo de transição. O mesmo para a região Centro de Portugal, dada a importância que o setor público e privado atribui a este mercado, dado que, ainda que não esteja no TOP 5 dos seus principais mercados emissores – Espanha, França, Alemanha, Brasil e Itália -, ocupa o relevante 6.º lugar neste ranking (dados do INE de abril 2016).

Foi, portanto, unânime, para agentes públicos e privados, a importância e o sucesso da participação portuguesa em mais uma edição da WTM, em particular, no “auscultar”, in loco, da dita “nova” realidade do Reino Unido, e na forma positiva como a marca “Portugal” se continua a posicionar neste mercado.

E foi neste ambiente de otimismo, que se acompanhou a noite eleitoral dos Estados Unidos, e se recebeu, madrugada fora, a notícia de que o seu 45.º Presidente seria, não (ainda) uma mulher, mas Donald Trump.

A verdade é que eram muito poucos os que acreditariam ser possível (eu, inclusive), atendendo ao contexto de serem as eleições imediatamente posteriores ao governo de Barack Obama, o primeiro negro a ocupar a Sala Oval – mas que soube, com carisma, diplomacia, simpatia e uma incomparável atitude, marcar, de forma decisiva, o seu lugar na história. O seu “Yes, we can” será uma marca inegável da sua governância, e é hoje, por todo mundo, uma das expressões amplamente utilizadas em contextos motivacionais. Dificilmente, seria possível encontrar um candidato com equiparável perfil, sendo que todos os que se pudessem seguir, sofreriam, inevitavelmente, do síndrome “Não-Ser-Barack-Obama”.

Por outro lado, os longos meses de campanha foram fortemente marcados por declarações polémicas, bem como, por posturas e atitudes menos consensuais, por parte do candidato Trump, posicionando-o como “pouco elegível”, na inevitável comparação com o seu antecessor. A Comunicação Social, um pouco por todo o mundo, “deu palco” a estas manifestações “pouco convencionais”, empolando-as muitas vezes, sem que, contudo, fosse possível calcular ou prever as reações do povo americano, como acabou por se confirmar na madrugada do dia 09 de novembro.

Hillary Clinton teve ao seu alcance ter sido a “primeira mulher” a ocupar a Presidência dos Estados Unidos, e deixou-a escapar sem, contudo, e até ao momento, ter conseguido perceber o “como” e o “porquê”. Desconhece-o ela, desconhece-o politólogos, políticos, jornalistas, e o mundo de uma forma geral.

Falharam quase todas as sondagens, sendo que na véspera das eleições, a preocupação geral era a de se Trump aceitaria ou não a vitória eminente de Clinton. E estas eram preocupações, à partida, perfeitamente válidas e “pouco” tendenciosas, se atendermos que ao longo da Campanha, Trump “disparou” em todas as direções: contra os emigrantes (ameaçando com “muros), contra direitos instituídos, contra a “diferença”, e anunciava de forma camuflada, xenofobia, sexismo e conservadorismo (em questões estruturantes como educação, saúde ou cultura). Tudo isto, num Estado dito “normal”, seria o perfeito suicídio político, num mundo que se alavanca e se estrutura em torno de fortes ideais como igualdade de direitos e de deveres, de género, sem barreiras, sem discriminação e sem sexismo.

A verdade é que Trump ganhou as eleições. E fê-lo com o voto das diferentes classes económico-sociais, com diferentes habilitações literárias, coletando votos da maioria dos estados americanos. E fê-lo com o voto dos negros, das mulheres, dos jovens e dos idosos. E a isto, por mais que seja, à primeira vista incompreensível, chama-se democracia, e resulta, acima de tudo, dos votos em consciência e livres, dos americanos que assim o decidiram. Resulta do exercício livre e igual da autodeterminação política.

Acredito que, depois deste rescaldo eleitoral, não faltarão estudos e teorias que procurem ajudar no esclarecimento e na compreensão deste fenómeno.

Durante os próximos quatro anos, o destino dos EUA, mas também do mundo, associar-se-á a Donald Trump. A marca, a confiança, e a imagem positiva que Barack Obama construiu para os EUA ao longo da sua governação, tenderá, naturalmente, a esbater-se. Será inevitável que as medidas, opções políticas, estratégicas e pessoais do seu Presidente, sejam conducentes à criação de uma nova imagem e de uma nova marca. Que seja digno, feliz e autêntico o substituto do, há muito “nosso”, “Yes, we can”. Porque o futuro começa hoje.

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Por Pedro Machado

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