E depois do automóvel?

7 de Setembro de 2017 em Opinião,Opinião

E depois do automóvel?

Para muitos surgiu como uma novidade, para outros nem por isso, já que vem plasmado no Acordo de Paris que a transição para uma economia de baixo carbono passa (também) por uma ‘revolução’ na mobilidade urbana. O anúncio por parte de 11 cidades europeias, incluindo as ‘vizinhas’ Madrid e Paris, que a partir de 2025 a circulação de automóveis a gasóleo passará a ser interdita veio tornar mais efetiva aquilo que alguns poderiam pensar ser apenas uma intenção. E não, não faltam muitos anos. A mudança já começou!

A ministra do Ambiente alemã avisou na semana passada que poderá ter de proibir a circulação de automóveis a gasóleo no centro das cidades já a partir de 2018. Neste país, a maior parte dos stands já tiveram de baixar os preços, numa altura em que quase um terço dos alemães está a pensar trocar o carro a gasóleo. Em Espanha, Madrid prometeu banir os motores a gasóleo do centro urbano já em 2020. Paris e Atenas anunciaram, por seu turno, que irão proibir a circulação destes veículos a partir de 2025. Também Oslo (Noruega) anunciou a proibição de carros a gasóleo e a gasolina no centro da cidade a partir de 2019. Interdição esta que o governo norueguês pretende estender a todas as cidades do país a partir de 2025. Adicionalmente, os governos francês e britânico anunciaram que irão proibir a própria venda de automóveis com motores de combustão interna a partir de 2040.

Acresce que na, Alemanha, depois de uma reunião de emergência, o governo e as maiores construtoras de automóveis, como BMW, Mercedes, Opel e VW, fecharam um acordo que obriga a alterar o software de 5,3 milhões de carros diesel alemães para reduzir as emissões entre 25% e 30%, num projeto orçado em 500 milhões de euros.

Perante este cenário, se fizermos os cálculos, em causa estão todos os carros vendidos em Portugal entre 2006 e 2014, ou seja cerca de meio milhão, os quais são já tidos como obsoletos, dado que correm o risco de circular apenas no país e desvalorizarem por incumprimento das emissões. Se quiserem sair para além das fronteiras nacionais, terão ou de ser reparados ou de ser substituídos.

Face a estes sinais de mudança e ao impacte associado, não podemos, pois, crer que Portugal ficará por muito mais tempo abstraído daquilo que já mostra vir a ser a tendência internacional. Efetivamente, o Ministério do Ambiente já veio dizer publicamente que em Portugal também estão a ser estudadas medidas a adotar nas cidades portuguesas, que serão incluídas no Roteiro de Baixo Carbono ainda em preparação.

A poucos dias de se assinalar mais uma edição da Semana Europeia da Mobilidade, que decorre entre 16 e 22 de setembro, neste ano sob o slogan, “A partilhar chegamos mais longe”, importa operar em cada um de nós uma mudança de mentalidade. Mais do que isso, uma mudança dos comportamentos. É preciso que interiorizemos que, em matéria de mobilidade, importa cada vez mais da ênfase à utilização de bens ao invés da posse dos mesmos, isto é: cabe aos prestadores de serviços disponibilizarem os seus bens, recursos ou competências, aos vários utilizadores através de uma plataforma fornecida por intermediários.

Em Lisboa, por exemplo, começa a funcionar no próximo dia 12 de Setembro na cidade de Lisboa um novo serviço de carsharing, um conceito de mobilidade que dá pelo nome de DriveNow, que resulta de uma parceria entre a BMW e a Sixt, e que chega pela mão da Brisa. Este serviço chega a Lisboa numa altura em que se encontram em funcionamento já outras propostas de partilha de veículos, nomeadamente a Citydrive, criada em 2014 e atualmente a operar com 40 carros, frota que deverá evoluir para 250 automóveis e 100 ‘scooters’, de que participam os modelos Opel Adam e Skoda Fabia, estando prevista a adesão do elétrico Nissan Leaf, cuja lançamento  mundial ocorreu em Tóquio esta semana.

‘Partilha’ é, por conseguinte, a palavra-chave a reter na mobilidade urbana que queremos, assente nas mais-valias das novas tecnologias que, através das suas aplicações e plataformas online, contribuem para tornar a mobilidade mais eficiente e, desta forma, economizar dinheiro e ajudar o ambiente. Se não veja, estudos mostram que optar por uma mobilidade partilhada pode ter um impacte positivo nas nossas cidades e vilas, sendo que cada carro partilhado equivale a menos15 carros particulares a circular na estrada. Partilhando, podemos com maior facilidade conjugar diferentes modos de transporte: carro, bicicleta, transportes públicos. Tudo é possível quando partilhamos! Não acredita? Experimente. Fica o desafio.

José Manuel Costa, Presidente da GCI

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