De tempo em popa

6 de Novembro de 2013 em Opinião

De tempo em popa

Uma previsão mais ou menos acurada, designada Lei de Moore, que desde meados da década de 60 é uma norma no ramo tecnológico, e a que eu tive conhecimento apenas recentemente ao ler um livro sobre a nova era digital*, determina que “os chips dos processadores (as pequenas placas de circuitos que constituem a espinha dorsal de qualquer processador) duplicam de velocidade a cada 18 meses. O que significa que em 2025 um computador será 64 vezes mais rápido do que em 2013.” Os mesmos autores acrescentam que o volume de dados transmitidos por fibra óptica, a forma mais rápida de conectividade, duplica em média a cada nove meses.

Os novos veleiros que disputam a America’s Cup, que terão sido certamente desenvolvidos com o inestimável auxílio dos mais avançados sistemas informáticos, atingem o dobro da velocidade comparativamente aos barcos do ano passado. Os AC72 são os catamarans mais velozes de sempre, tornando-os ao mesmo tempo os que requerem a maior destreza no seu manuseio. Estima-se que o tempo de decisão para manobrá-lo é de ¼ do que exigia a sua geração anterior.

De uma forma geral os timings para o desenvolvimento dos projectos de marca e comunicação têm vindo encolher como espinafres no tacho, com resultados bem menos saborosos. A agilização garantida pelos meios de comunicação e o acesso a ferramentas informáticas que facilitam a materialização das propostas num piscar de olhos têm sido promotores da aceleração dos processos de estruturação e desenvolvimento estratégico-criativo, reduzindo em muito o tempo disponível para que sejam tomadas as decisões mais acertadas ou, pior, para que que sejam apresentadas propostas mais arrojadas. Quem não se lembra do video “Creativity requires time [1]” de 2011?

É verdade que as nossas máquinas capacitam-nos para sermos cada vez mais ágeis em todos os sentidos e em todas as etapas, isso é consensual e tão irreversível como os meus cabelos brancos. Entretanto temos de ser igualmente mais responsáveis e não negligenciarmos a qualidade dos outputs para atendermos a cronogramas irrealistas ou mesmo despropositados. Uma decisão estratégica tomada às pressas pode não ter as consequências trágicas de um engano numa prova vela a mais de 100km/h, mas pode levar ao naufrágio dos objectivos da marca.

O senhor Moore eventualmente acertará na sua previsão, mas ilude-se quem pensar que em 2025 seremos capazes de solucionar um desafio 64 vezes mais depressa do que fazemos hoje. Onde a tecnologia pode e vai nos ajudar é na selecção da informação pertinente, poupando-nos o valioso tempo para que o possamos aplicar ainda mais e melhor no processo criativo.

*”A Nova Era Digital”_Eric Schmidt/Edward Cohen – Ed. D. Quixote

URL do artigo: http://imagensdemarca.sapo.pt/entrevistas-e-opiniao/opiniao-1/de-tempo-em-popa/
Copyright © 2012 Imagens de Marca. Todos os direitos reservados.