Comer para que te quero?!

6 de Julho de 2017 em Opinião,Opinião

Comer para que te quero?!

Estaremos assim tão longe da ficção científica quando falamos da alimentação do futuro? Chegaremos ao momento em que ingerimos apenas cápsulas com os nutrientes que necessitamos, abdicando de todo o processo emocional que associamos ao ato de comer? Num momento em que o património gastronómico é um dos principais ativos de atração para o nosso país e, em simultâneo, enfrentamos desafios importantes do ponto de vista da educação alimentar de todas as gerações – desde a promoção de hábitos alimentares saudáveis aos próprios estilos de vida que nos permitam ter uma alimentação mais equilibrada e de acordo com o efetivamente necessário – importa perceber que soluções o setor agroalimentar está a desenvolver.

Quando falamos no futuro da alimentação estamos, sem dúvida, a falar sobre quem come, o quê e como. A oportunidade de acesso à alimentação é díspar e o debate público sobre a inovação da produção, transformação e distribuição no setor agroalimentar é determinante para reduzir as enormes limitações que afetam a população mundial, tanto para a redução da fome (805 milhões sofrem de fome crónica em todo o mundo, FAO) como para o aumento da sustentabilidade alimentar.

A aposta em novas soluções que contribuam para melhorar o futuro da alimentação, relacionadas com inovação e desenvolvimento de novos produtos, distribuição no mercado, programas de sensibilização e novos processos serão fatores-chave de resposta aos atuais e futuros desafios. Deixaremos de consumir os alimentos como os conhecemos hoje e teremos novos produtos – substituição de alimentos, novas proteínas, novas formas de cultivo – e formas de consumo.

A inovação na alimentação, desde o campo ao prato, onde a alimentação e a tecnologia se encontram. Além da inovação ao nível do produto, também a importância do desenvolvimento tecnológico para a alimentação, através de investigadores e demais meio académico, é determinante para a sustentabilidade do setor agroalimentar. Processos mais eficientes, que produzam menor desperdício e, ao mesmo tempo, elevada (re)utilização de todos os recursos implicados são desafios que, com a realidade que conhecemos – até 2050 seremos mais 2.5 milhões de pessoas no planeta e a certeza é que, com o que sabemos hoje, será muito complicado alimentá-las.

Por outro lado, e considerando o processo produtivo, é fundamental perceber e agir sobre o impacto no Ambiente e, por outro lado, o impacto que o ambiente tem no processo produtivo: uma espiral de desafios dos sistemas globais de alimentação. Quais são estes impactos e que sistemas são necessários agora e no futuro para criar um futuro da alimentação que seja seguro, sustentável e justo?

Biodiversidade da agricultura, a importância dos sistemas de produção rurais e a criação de resiliência na alimentação, produção de sistemas agrícolas em torno de um futuro ecologicamente mais sustentável são temas determinantes que nos acompanharão no futuro próximo e durante alguns anos.

O futuro da alimentação não é certo… mas a sua definição passará certamente por repensar o uso da terra e da água e das novas ferramentas de inovação, para que possam transformar a (in)certeza da (in)disponibilidade dos recursos do planeta num futuro mais sustentável, seguro e, sobretudo, igualitário.

José Manuel Costa, presidente da GCI

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