A “santa” hipocrisia do NATAL

9 de dezembro de 2014

A “santa” hipocrisia do NATAL

Miguel Caeiro, fundador The Street Brasil

Deparei-me subitamente com uma invasão de decorações natalícias em que de forma notória e gritante estava ausente o principal – o Presépio.

Desde o Séc. IV que o dia 25 de Dezembro foi designado para celebrar o NATAL. A palavra natal deriva do Latim natalis, uma derivação do verbo nascor que significa nascer.

O evento hoje conhecido como NATAL foi assim adoptado pela religião Católica para assinalar o nascimento de Jesus Cristo, evento que todos os Católicos celebram anualmente antecedido de um período de preparação denominado Advento.

Sem falsos pudores, beatismo ou excesso de zelo, confesso que me faz alguma estranheza a forma como o NATAL se transformou num negócio, num período de férias e feriados, num evento de comércio desenfreado, num motivo para campanhas publicitárias, mas que a verdadeira alma e conceito, significado e importância se esvanece a cada ano que passa.

Ganhou força um “politicamente correcto” que não permite desejar um “Santo Natal” mas sim um neutro e imparcial “Boas Festas”, não vão as pessoas que professam outras religiões se ofenderem, ou os ateus ficarem ressentidos. Os cartões e mensagens de Natal passaram a ter então uma linguagem cuidadosamente protegida contra os potenciais ofendidos. Temos Chefes de Estado ateus a emitirem mensagens de Natal. Enfim, domina a discrepância e a incoerência sobre um tema tão importante.

Acredito que grande parte da culpa é dos Católicos, fazendo desde já a minha quota de mea culpa. Teremos nós orgulho suficiente para quebrar as barreiras sociais e “gritar” com orgulho um “SANTO NATAL” a todos os nossos relacionamentos, teremos orgulho em referir nas nossas conversas sociais o quanto voltamos a vibrar com a mensagem do Evangelho de ontem com a anunciação do Anjo Gabriel a Maria que iria conceber sem pecado um menino a quem daria o nome de Jesus, teremos orgulho suficiente para sermos verdadeiros Cristãos nos nossos gestos e atitudes e na nossa capacidade de perdoar e respeitar, teremos orgulho suficiente para sermos profissionais diferentes pelos nossos valores, teremos orgulho suficiente para ostentar o nosso Presépio mais do que as luzes piscantes de uma qualquer loja chinesa?

Tenho um enorme respeito por todas as religiões e Credos e por tantos outros amigos que são ateus, mas me pergunto com toda a sinceridade, o que é o Natal para eles? O que comemoram? Por que se sentam à volta de uma árvore que pisca trocando presentes?

Tal como não me passa pela cabeça celebrar ou participar das datas importantes de outras religiões, não entendo porque se criou este receio do “politicamente correcto” acerca do Natal, onde desde as Empresas à Politica e aos Media se tornou incorrecto falar do Natal enquanto Natal, como celebração do nascimento de Jesus, predominando antes a versão popularucho do simpático Santa Claus transfigurado pela Coca Cola no mais mediático Papai Noel, Pai Natal, Santa Claus, ou como lhe quiserem chamar, e nas mais lucrativas celebrações que ocorrem nas lojas com um incentivo desenfreado ao consumo.

Quem sabe se um dia cometessem a barbaridade de deixar patrocinar as vestes papais, com logos na Estola ou na Mitra, talvez aí a atenção e a relevância fossem outras e mais apelativas para os fazedores de histórias.

Nestes tempos mais digitais, em que cada um de nós consegue impactar milhares de pessoas com relativa facilidade, deixo um apelo aos Católicos para terem orgulho na sua Fé e para postarem o seu testemunho como postam os magníficos pratos de comida que tanto fotografam. Que pratiquem tantos atos de cristianismo com o próximo como os “likes” que colocam nas páginas dos amigos. Que sejam autênticos viralizadores da Fé no sentido mais contemporâneo, atual e pragmático que existe.

Estou igualmente convicto que o Papa Francisco através da já comprovada capacidade de chegar a um número crescente e avassalador de pessoas fará uma propagação de um espírito de Natal de verdadeira celebração pelo nascimento de Jesus.

Eu prometo desejar a todos os meus amigos (digitais e físicos) um SANTO NATAL com a Graça de Deus.

Caso o dom da Fé não vos acompanhe, aproveitem e vão viajar, aproveitem as pequenas férias, estejam com a família e sejam muito felizes.

“Neste mundo, nesta humanidade, hoje nasceu o Salvador, que é o Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém, deixemos que o nosso coração se comova, não tenhamos medo disso, precisamos que o nosso coração se comova.”

Mensagem de Natal 2013 Papa Francisco

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelas
8 votos
Loading ... Loading ...

Comentários (5)

  1. Se o dia 25 foi adaptado pela Igreja Católica no terceiro século d.C., para permitir a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano, por que raio outros religiosos ou mesmo ateus não podem adaptar essa época para confraternizar com seus pares mesmo não acreditando nesta ou em qualquer divindade?

    Se a própria Igreja “adaptou” a data, não poderá um contemporâneo fazer o mesmo? Uma bela premissa católica “faças o que digo, nunca o que faço”..

    por: António Varela,
  2. Parabéns Miguel Caeiro pelo corajoso dar a cara e a atravessar a reputação profissional por convicções, fugindo à politicamente correcta neutralidade. É a este tipo de atitudes de assumpção quotidiana dos nossos valores que somos chamados enquanto cristãos, mas cobardemente escondemos aquilo em que acreditados, como se tivéssemos vergonha daquilo que nos devia orgulhar e temos o dever de levar aos outros, pelo exemplo. Como você fez. Isto é ainda mais importante pelo facto de a sua voz fazer opinião e ter audiência. Obrigada pela audácia. Boa sorte para a street brasil e …. um Santo Natal.

    por: Ana Ribeiro Rosa,
  3. Pois claro, os católicos ficam indignados com muita coisa.. e só puxam a brasa as sardinhas que mais convém.. é como a questão do “velho testamento” está lá tudo o que é a atrocidade humana.. mas isso não é para se ter em conta.. o Natal não é o nascimento de Jesus, foi adaptado pela igreja para que fosse mais fácil e pacífica a integração dos hábitos dos povos “bárbaros”. Acho uma demagogia pegada esse mimimimi “santo” pecado mesmo é viver a vida de forma como uns quantos pseudo iluminados ditam.. uns quantos destes que nos tempos modernos foram acusados de pedofilia e a “santa madre igreja” pouco ou nada fez. Ao invés de alegarem “enquanto católicos” digam antes, “enquanto hipócritas”….

    por: Mário Almeida,
  4. O Natal já há muito foi superedo por qualquer religião de fé. Hoje, é cada vez mais a propogação da fé “moeda” com o apelo massivo ao comércio, à época de “amenizar” hipocritamente todas as quelisilas praticadas com o próximo nos restantes 11 meses e meio (vou dar aqui uns 15 dias de paz podre)…Natal não é celebração de religião ou fé ou esperança, é celebração de consumismo exacerbado de palmidanhas nas costas e de presentes envenenados para pagar ou à espera de favores futuros… e é só isto. Os consideram que é época de familia e reunião, não precisam do Natal, pois os tem esse espirito dentro de si, já o fazem pelo ano inteiro…

    por: Rui Santos,
  5. Parabéns pelo texto! Excelente!!!

    por: Mário,

Escreva o seu nome e email ou faça login com o Facebook para comentar.