Manuel Forjaz

3 de maio de 2012

Manuel Forjaz

Manuel Forjaz é o grande responsável pelo TEDx O’Porto. É acima de tudo o afitrião e o motor deste evento que já vai na sua 3ª edição, e este ano foi sobre o tema “Das Tripas Coração – got the extra mile”.

“Momentos de grande inspiração e de construção de uma nova força e motivação do futuro” eram as espectativas de Manuel Forjaz no dia antes do congresso. Expetativas que se cumpriram quando no final do dia Manuel Forjaz subiu ao palco para partilhar a sua experiência de vida.

O Imagens de Marca entrevistou este empresário que participou no TED Global de 2009 e se define da seguinte forma: “47 anos, marido da Helena há 20 anos, pai do José Maria (18) e António Maria (17), nascido em Moçambique, residente e amante de Lisboa.
Bom aluno até à Universidade Católica, fraquíssimo curso de Economia”.

Imagens de Marca (IM): “Das Tripas Coração – got the extra mile”. Porque este mote para o TEDx deste ano no Porto?
Manuel Forjaz ((MF): Das Tripas Coração…. teoricamente todos os TEDs têm de ter uma fortíssima ligação à região onde estão inseridos. TEDx O’Porto… a associação às tripas e à ideia da intestinidade dos nossos sentimentos, a genuinidade da nossa dor e da nossa frustração pareceu-nos óbvia. Coração… fazendo o salto para “a milha extra” significa primeiro que todo o descontentamento e todo o desconforto é relativo, que todos podemos transformar grandes problemas em problemas mais pequenos, todos podemos fazer qualquer coisa para ajudar a resolver a situação… situação pessoal, económica, de trabalho, de desemprego, de infelicidade emocional. Simultaneamente de emoção e de motivação, mas ao mesmo tempo de empowerment… dizer, tens aqui outras histórias de outras situações que são provavelmente muito mais dramáticas do que a tua e essas pessoas estão cá a contar que ferramentas, que instrumentos e que estado de espirito usaram para contornar e para vencer os seus obstáculos.

IM: Acha que os portugueses preparardos para receber o espirito TEDx?
MF: Confesso que tinha essa dúvida na primeira edição, fiquei esmagado quando ao fim do primeiro painel tivemos um semi-colapso emocional com pessoas em semi-extase. Depois disso tem sido uma tranquila constatação, à medida que os intervalos foram passando, depois quando passou a segunda edição, e à medida que fomos construindo a terceira… fomos reparando que era não só o aspeto emocional, que é sempre importante, mas que há coisas a acontecer – há alunos que estão a montar projetos sobre como ensinar desempregados a conseguir emprego, há médicos que se juntam para projetos de investigação, há pessoas com pouco dinheiro que de repente fazem experiências de viagens dentro do país à procura do país desconhecido, há jovens que estão desempregados e ajudam pessoas mais velhas… e de repente há aqui uma comunidade de produtividade, de vontade de construção de um mundo melhor que acho que tem um bocadinho origem nestas conferências, mas sobretudo neste espirito e nesta maneira de estar.

IM: Portugal está cheio de empreendedores com dificuldade em se fazer ouvir?

MF: Completamente de acordo. Vivemos durante muito tempo o mito do grande empreendedor, os heróis eram sempre os mesmos que apareciam nas capas dos jornais. Nós nunca falamos nisso, mas o taxista é um empreendedor, o dono do pequeno café é um empreendedor, o alfaiate é um empreendedor, são pessoas que têm os seus negócios, que são independentes. O que falta é o elemento agregador para ganhar escala, competitividade, para poderem ter acesso a design, a moda, a valores de marca. E é, provavelmente,  essa atomização forçada, imposta à classe empreendedora minúscula portuguesa, que eu acho que é uma das razões do nosso desenvolvimento.

IM: Considera o aparecimento das redes sociais importante no desenvolvimento destes pequenos empresários?
MF: Embora ainda estejamos no princípio da internet, estamos muito no ator de teatro e na plateia, na troca de conteúdo,s e não na produção da obra. Ou seja, as redes ainda servem mais para partilhar conteúdos, informação, vídeos e fotos, do que para as pessoas começarem a construir obra. Que é o próximo passo.

IM: Considera que todas estas formas de comunicação, inclusivamente as conferências TED, são um lobby positivo?
MF: Sim. É um lobby positivo e é a tentativa de desatomizar uma miríade de pequenos empreendedores portugueses, ajudando-os a construir projetos maiores, mais fortes e com maior potencial de crescimento.

IM: Como define o caminho para a resolução da situação que Portugal vive atualmente?.
MF: Acho que é através da internacionalização da economia, obviamente desta questão da junção dos recursos, e o regresso à terra. É  impossível copiar o modo como se faz o queijo da serra, ao passo que qualquer software e qualquer programação é copiada e replicada em Tóquio 2 segundo depois de parecer na internet.  São sobretudo estas, e mais uma vez pegando naquilo que é a inspiração do conceito TED, as ideias que vale a pena espalhar, bem como a importância de uma liderança iluminada e inspiradora. Como Kennedy no princípios dos anos 60 ao dizer que até ao fim da década os Estados Unido iriam colocar um homem na Lua e trazê-lo de volta à terra são e salvo. E com isto juntou a indústria, as universidades, os cidadãos, a indústria de armamento, a física, a medicina em volta de um propósito comum.

Portugal é muito pequeno para não termos uma liderança que nos inspire na busca deste propósito comum… que eu não sei qual é, mas sei que é algures entre o mar e a hortofrutícula e os aspetos da mercearia nacional.

IM: Qual o papel  das marcas/empresas nesse caminho?
MF: É um papel critico, é o global local, é o local global, é o “glocal”. É a Joana Garcia que deixou de ser advogada e foi para o campo, começou a fazer uns queijinhos do Monte da Vinha, pegou nos queijos, levou-os a São Paulo, apresentou-os a um restaurante de luxo e de repente, antes de vender os queijos nos supermercados em Portugal, está a vendê-los num dos melhores restaurantes da América Latina. E isso constrói-se com produtos, com produtos que são impossíveis de replicar como são os queijos dela, que dependem de uma fórmula de um cozinheiro e da capacidade dela criar uma marca, com a qual agora pode entrar noutros restaurantes internacionais e no mercado nacional.
Portanto, as marcas são fundamentais. Num mundo saturado de ruído de comunicação e partilha de informação só marcas fortes permitem fazer a diferença, distinguindo além dos produtos aquilo que é a memória do consumidor. E esse trabalho é muito difícil quando começa assim. O trabalho que a Joana está a fazer com os queijos é muito difícil. Ela vai ter sucesso. Só que isto que na Holanda demoraria 2 anos, porque a ela associar-se-iam outros oito produtores, quando fosse para São Paulo ou para Nova Iorque teria condições de acesso ao mercado e à distribuição. Ela vai fazê-lo com muito mais dificuldade. Tudo na economia portuguesa, tudo na internacionalização, tudo no nosso crescimento é sempre  muito mais difícil.

IM: Considera que as marcas já estão a desempenhar esse papel de que falou?
MF: Se fosse perante um pelotão de fuzilamento diria que não estão nesse caminho. Agora, diria que há exemplos, a Frulact, a Critical Software, a Pelcor,a Salsa, a Parfois. Já há muitas histórias boas às quais importava agora dar um salto de gigante.
É sempre o mesmo problema. Como partimos de um mercado local que é pequeno, como trabalhamos atomizadamente e não nos juntamos para abordar os mercados globais, os processos de crescimento levam sempre muito mais tempo.
Não estamos lá, mas acho que há um conjunto de bons exemplos que começam a servir como case study para o restos dos empreendedores.

 

 

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Teresa Salvado

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