“Estes festivais não são para jovens”

22 de Junho de 2012 em Entrevistas e Opinião,Opinião

“Estes festivais não são para jovens”

Os Festivais de Verão começaram em Portugal na década de 90 do século passado, tal como já acontecia noutros países europeus, nomeadamente, no Reino Unido. Eram oportunidades de ver as bandas do momento num formato economicamente bem mais eficiente face aos concertos isolados tornando os preços dos bilhetes tornavam-se bem mais acessíveis, e por consequência mobilizando imensas multidões para os mesmos.

Começaram por ser realizados em locais fora dos grandes centros urbanos conseguindo, também por isso, atrair públicos para zonas mais inóspitas, com custos de vida mais baixos – refeições, alojamentos, etc.- sem que isso impedisse que se construíssem imensos parques de campismo temporários especialmente criados para os eventos.

Ora, com todos estes ingredientes juntos, a faixa da população que mais rapidamente aderiu ao formato foram os jovens, pois viam as suas bandas preferidas, e com mais sucesso no momento, num ambiente bucólico – de praia ou campo – em condições no mínimo “aventureiras” e, a acrescentar, “very very low cost”.

Com este target tão presente e tão focado, as marcas investiram e patrocinaram avidamente estes Festivais com o intuito de poderem comunicar e interagir diretamente com o target 15-25, num ambiente positivo, proporcionando experiências bem diferenciadoras e construindo uma relação mais próxima entre marcas e jovens.

Os anos passaram e, em 2012, creio que este paradoxo de, Festivais = Target jovem, está totalmente desfeito.

Senão vejamos:

Os cabeças de cartaz dos 4 mais importantes Festivais de Verão – Optimus Alive, Rock in Rio, Super Bock Super Rock e Sudoeste TMN – começaram as suas carreiras, em média, em 1982 – há 30 anos atrás; quer isto dizer que os jovens entre os 15 e 25 anos estarão a ver bandas que já existiam, no mínimo, há 5 anos quando estes nasceram; há 6/7 anos quando começaram a andar; há 8/9 quando começaram a falar; e há 10/12 anos quando começaram a perceber o que era a música!

Claro que este facto enaltece o valor das bandas das décadas de 80/90 do século XX porém, ao mesmo tempo, faz com que das duas uma – ou os jovens de hoje em dia são bem mais nostálgicos e revivalistas do que normalmente as gerações mais novas o são; ou simplesmente não vão aos festivais e não são eles que estão a encher os recintos.

Na minha opinião o que está a acontecer é a segunda hipótese.

São os pais destes, os seus irmãos mais velhos, etc. que estão a ser os grandes públicos destes festivais, pois a música oferecida é, na sua maioria, a música que os seus pais ouviam e apreciavam e que agora pagam para ver ao vivo nos Festivais de Verão.

E porquê poderá estar a acontecer isso?

Porque a geração 15-25 tem hoje condicionalismos económicos muito superiores aos que os homónimos de há 10 ou 15 anos atrás tinham e, por essa razão, não têm possibilidade de ir a estes festivais; ao mesmo tempo os organizadores dos eventos, ao perceberem este movimento, começaram a ajustar os seus cartazes para o segmento que poderia manter público nos festivais – os 35-45/50 e por aí acima. E daqui surge o facto curioso de que nos cabeças de cartaz destes festivais não exista uma banda que tenha sido criada neste século!

E este movimento não ficou por aqui…os festivais são mais urbanos e menos “regionais”.

Há uns anos o calendário destes eventos passava por Vilar de Mouros ou pela vizinha Paredes do Coura, saltava ao Ermal e descia por Ribeira d’Ilhas, Meco até à Zambujeira do Mar. Nada de grandes metrópoles! De todos estes só o último se tem vindo a realizar anualmente e o facto é que, no sentido contrário, apareceram de há 7/8 anos para cá grandes festivais em Lisboa e no Porto, precisamente onde estão os públicos de 35-50 anos, sem paciência para se deslocarem para locais inóspitos do país e ver os seus ídolos musicais da juventude, e acima de tudo, com a capacidade económica para poderem assistir aos mesmos.

Em suma, e por todos estes factores, hoje temos Festivais tendencialmente mais urbanos, com bandas que, em média, têm 30 anos de existência e por isso trazem os “hits” que acompanharam a adolescência da população que agora tem 35-40 anos e que é, por sinal, a que tem a capacidade económica para acompanhar esta oferta.

Por tudo isto digo que … inspirado nos irmãos Cohen … “Estes festivais não são para jovens”.

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