16 de abril de 2008

Entrevistas

O luxo veste Hollywood, impera nas festas privadas, faz vender revistas e até é tratado cinematograficamente. O luxo gera receitas incalculáveis e atrai ricos e não ricos porque significa status e dá prazer. Com o boom dos media, a melhoria do poder de compra e o apelo generalizado ao consumo, são cada vez mais as pessoas que querem aceder a este patamar, onde só chegavam os ricos e os famosos. A democratização do luxo é uma realidade, garante Susana Campuzano, especialista em Consumo de Luxo, mesmo que para isso seja preciso fazer muitas contas e apertar o cinto noutros bens.


 


Imagens de Marca: Porque é que as pessoas se sentem tão atraídas por produtos de luxo?


Susana Campuzano: Costuma-se dizer que o luxo é uma necessidade da alma. Apesar de o luxo não ser um bem necessário, responde aos desejos do homem de beleza e sofisticação, por um lado, e de prazer pessoal, que se traduz no manuseamento dos objectos, por outro. Tem em si uma dose de reconhecimento social. Hoje em dia, a relação com o luxo é profundamente emocional e insere-se numa realidade baseada no trabalho e no consumo. No meu livro “O Universo do Luxo” defino o luxo como “tudo aquilo que nos proporciona um grande prazer pessoal e social e que transcende a nossa existência quotidiana”. O luxo vai ao encontro dos desejos do homem de possuir algo “extraordinário”, “diferente” e “especial”. Tratam-se de bens supérfluos que dão prazer à vida, como uma festa.



IM: Quais são as principais estratégias do mercado de bens de luxo?


SC: Resumo tudo a ABC: “Art, Business e Control” (Arte, Negócios e Controle). Os produtos de luxo têm de ter uma dose forte de criatividade e inovação, têm de ter qualquer coisa que os torne raros. Já o negócio dos produtos de luxo é baseado no controle: um preço elevado significa para o mercado qualidade do produto; uma distribuição selectiva (apenas em alguns pontos de venda), pontos de venda extremamente cuidados e comunicação preocupada com o detalhe e com comportamentos que reforcem os valores da marca.     



IM: Como explica a generalização do surgimento de produtos Premium?


SC: Existe no mundo ocidentalizado e globalizado uma ânsia pelo consume de produtos de luxo. Estamos na era de massas que reclamam o seu direito ao todo. Antes as classes estavam estabelecidas de outro modo e as exigências eram mais estereotipadas. Hoje em dia, devido aos meios de comunicação, Internet e ao boom das celebridades e da democratização de muitas marcas de luxo, todos os clientes sentem-se com o direito de possuir objectos de luxo. Na verdade, não é mais do que uma consequência do aumento do nível de vida, assim como da globalização e da cultura dos media.


 


IM: Assiste-se a uma democratização do luxo?


SC: Por um lado as marcas de luxos estão a sofrer um processo de democratização, por outro há um número cada vez maior de clientes que prefere economizar noutros produtos para poder adquirir um produto de luxo. Exemplo disto, são é a generalização de hotéis de cinco estrela, de Spas, dos cruzeiros a preços baixos…



IM: Um produto de luxo é obrigatoriamente caro?


SC: Sim, caso contrário o cliente não o vai entender como tal. O preço reflecte o custo de mão de obra, distribuição e publicidade, mas também a margem de representação e exclusividade. Um produto caro não é necessariamente um produto de luxo. Por exemplo, uma viagem ao espaço não é um produto de luxo, apesar de ser caro, porque não tem critérios de beleza, arte, refinamento…



IM: Como é que são os canais de distribuição de um produto de luxo?


SC: O ideal são lojas próprias, os grandes armazéns – que permitem à marca ter um espaço próprio –  e os centros comercias de luxo, que existem na Ásia e na América do Norte. Mas têm havido novidades, de que são exemplo as cadeias multi-marcas como a Sephora ou botiques próprias multi-marcas como as da Tourbillon do Grupo Swatch, onde se vende todas as marcas de luxo com a Omega, Bréguet e Blacpain….



IM: Quem compra este tipo de produtos?


SC: Os ricos ou muito ricos com mais de um milhão de dólares (dinheiro liquido) para gastar e a classe media e media alta – aos quais chamamos os “excursionistas” de luxo, que comprar de um a três produtos de luxo por ano.



IM: Quais são as principais características de um produto deste tipo?


SC: Uma das características é a perfeição irrepreensível do produto e dos serviços (algo que nem sempre ocorre); a criatividade; o preço elevado; a estética especial e a exclusividade – tanto na distribuição como na comunicação.


 


IM: O mercado de luxo masculino está a crescer?


SC: Sim, o mercado de produtos de luxo masculino está em forte crescimento, a pesar de na minha opinião as marcas de luxo não saberem criar uma verdadeira oferta masculina. Há marcas como a Padra que terminaram agora a sua colecção para homem. As marcas líderes são as italianas e norte-americanas, como a Ralph Laurent o Hugo Boss. Os estudos revelam que enquanto a mulher gasta 17 euros em moda, o homem gasta apenas um. Mas há outros sectores que estão em forte crescimento, como o dos cosméticos, dos vinhos, da hotelaria ou da alta gastronomia.



IM: Qual é a região do mundo onde se compra mais produtos de luxo?


SC: O primeiro mercado é a Europa, seguido da América do Norte e da Ásia. Mas se atendermos aos consumidores, os que mais consomem são os Japoneses, seguidos dos norte-americanos e dos europeus. Temos de ter em atenção os mercados emergentes, as previsões são de que em 2009 os chineses consumam mais produtos de luxo do que os americanos e em 2014 serão os maiores consumidores do mundo.



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