5 de fevereiro de 2010

Mercados Lusófonos

Só Recuos


 


«Livra-te de mau vizinho e de homem mesquinho»,


provérbio popular


 


Não sofro de «castillofobia», e também não acho que sejamos inferiores aos espanhóis. Nunca gostei dos caramelos de Badajoz, não gosto do estilo dos jogadores de futebol que chegam a Madrid e arranham um lamentável sotaque «espanholês» e não gosto das praias espanholas. Acho é que, sinceramente, os nossos vizinhos estão longe de ser «nuestros hermanos», revelando ostensivamente traços de um nacionalismo egoísta: a dinastia filipina, o lixo nuclear de Adeadávila, ali mesmo perto da fronteira com Portugal, o episódio do petroleiro «Prestige» que, quando começou a derramar crude, levou Aznar a pressionar para que o mesmo fosse levado para fora das águas territoriais castelhanas, as declarações do então Presidente da República Jorge Sampaio que afirmava, coberto de razão, que as empresas portuguesas eram preteridas no mercado espanhol, são apenas alguns exemplos que me levam a pensar que os nossos vizinhos não têm particular estima por «nosotros».


 


Agora, junta-se mais um episódio. Joaquin Almunia, comissário europeu veio afirmar em conferência de imprensa, a respeito dos défices dos Estados-Membros da UE do sul: «Estes países têm défices consideráveis com componentes cíclicos, mas também com componentes estruturais, que precisam de ser resolvidos. No caso da Grécia e de Portugal, mais do que no caso de Espanha, as necessidades de financiamento externo são muito grandes». Almunia tem razão para estar preocupado? Tem. Já estava preocupado com a Grécia? Sim. Mas, a tentação foi grande. Era necessário encontrar mais países para não deixar a Grécia sozinha, e então tratou de juntar Portugal. E depois veio também acrescentar a Espanha. Mais por pudor, do que por vontade própria.


 


No dia seguinte às declarações de Almunia, os mercados financeiros internacionais juntavam os países ibéricos e a Grécia no mesmo saco, com os Credit Default Swaps (espécie de contratos de cobertura para risco de incumprimento no pagamento de dívida) de Portugal a atingirem níveis recorde, e com a bolsa portuguesa a registar as maiores perdas diárias desde Novembro de 2008.



 


«As aparências devem estar em perigo porque é sempre preciso salvá-las»


Natalie Clifford Barney, escritora e poeta norte-americana



Hoje os empresários e as empresas estão mais apetrechados em matéria de gestão da comunicação em situações de crise. Há até especialistas neste domínio. O que fez o Estado Português para defender a sua imagem neste momento de conjuntura adversa provocada por rumores e inquietudes? Nada. Pelo contrário, as declarações do ministro Teixeira dos Santos, no dia em que Portugal foi atingido pelos «animal spirits» dos mercados financeiros, transpiram tudo menos a necessária tranquilidade que momentos deste tipo aconselham. Citado pelo Financial Times, edição on-line, fiquei com a clara noção que o ministro deixou passar a ideia de que existe instabilidade política em Portugal. Porventura, não seria essa a sua intenção, dando a entender que a oposição é irresponsável quando defende uma nova lei de finanças regionais, atentatória das necessidades de contenção orçamental. Pelo contrário, parece ficar a intenção do governo português: governar «esticando a corda» permanentemente.
O desígnio nacional acima de tudo, espírito da convocação da reunião do Conselho de Estado desta semana, resistiu menos de vinte e quatro horas. A tentação das querelas políticas emergiu novamente. «Braços-de-ferro» substituíram o bom senso e o sentido de Estado. Não parece ser isto que os portugueses querem, e nenhum país aguenta ser governado desta maneira. Esta semana, o prejuízo é grande. Não ganhámos rigorosamente nada.


 


Quadro resumo da semana


 






AVANÇOS


 







RECUOS




  • A guerrilha política sobrepôs-se ao interesse nacional


 


Balanço da semana:
RECUO – não sabemos quais as consequências da ausência de bom senso. Os mercados financeiros estão recheados de rumores e, qualquer informação negativa, é rapidamente ampliada. Desengane-se quem acha que os investidores internacionais e as agências de rating entenderão as desavenças da política caseira. Nos dias que correm, gere-se muito mal a marca Portugal.

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