3 de maio de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços

 

«O entendimento acha o que há. A vontade acha o que quer»,

Pe. António Vieira

 

O apelo do Presidente da República teve, finalmente, eco. Governo e o principal partido da oposição chegaram a uma plataforma de entendimento. Certo que pressionados pelos mercados, mas existia uma convergência latente face ao desenrolar dos acontecimentos.

 

A semana foi das mais marcantes dos últimos tempos. Portugal subiu ao segundo lugar do pódio no que respeita a risco de falência, logo a seguir à Grécia. «Portugal and Greece», lia-se em títulos sem fim, em toda a imprensa internacional. Era o que se temia e tudo o que nós não precisávamos. Desta vez não se tratava da triste sina que nos abalou no Euro 2004, mas sim o resultado da especulação dos mercados financeiros, que ditava um acérrimo ataque ao Euro, por via destes dois flancos abertos. E a indefinição dos termos de ajuda à Grécia para tal muito contribuiu… Prova de que a União Europeia está longe de ser um espaço económico (ou político) comum, mas sim uma «manta de retalhos» de diferentes vontades.

 

Mais uma vez se prova que Portugal é um país de causas. Estava em causa provarmos que somos diferentes dos gregos e estamos fortemente empenhados em mostrar ao mundo que somos bem melhores. Talvez «despiores», mas seguramente debaixo da mesma bandeira.

 

Passos Coelho tomou a iniciativa e, de forma inédita, na manhã seguinte ao «descalabro» dos mercados, o líder do maior partido da oposição surgiu, ao lado do chefe do Governo José Sócrates, em declaração conjunta a «cerrar fileiras» contra a especulação.

 

Os mercados entenderam tal gesto como um «have-to-have», e não como um gesto extraordinário. Os mercados não gostam de instabilidade política e, por tal, este sinal foi bem acolhido. Só por isso. Não obstante, foi um importante passo. Porventura carregado de oportunidade política, de quem está a um passo do poder. Resta a esperança depositada no benefício da dúvida sobre o genuíno patriotismo.

 

Agora, falta cumprir a vontade.

 

Recuos

 

«O teimoso que nunca atende ao conselho amistoso, encaminhar-se-á na certa para o perigo»,

Textos Budistas

 

E lá vem outra vez o TGV e o Novo Aeroporto. Já tenho alguma dificuldade em perceber se é uma questão de não «dar o braço a torcer» ou se é mesmo convicção.

 

O Presidente da República, de irrepreensível formação económica, expôs as suas razões para se repensarem os investimentos públicos. Na realidade, não estamos em condições de canalizar os nossos impostos para investimentos que, maioritariamente, usarão materiais e serviços importados. Para além disso, é dúbio que haja resultados imediatos desses investimentos que incrementem a posição competitiva de Portugal no mundo, uma vez que os investimentos não se traduzirão na produção de bens transaccionáveis.

 

É importante que os sinais que se transmitem para o exterior sejam coerentes: primeiro, estamos na linha da frente no combate ao défice e no equilíbrio das contas públicas, e depois reconfirmam-se os investimentos em obras públicas… Não é coerente!

 

Quadro Resumo da semana

 

AVANÇOS

  • Sócrates e Passos Coelho «cerraram fileiras»

 

 

RECUOS

  • A teimosia do anúncio de obras públicas

 

 

Balanço da semana

 

AVANÇO – Apesar de sabermos que tal gesto pode anteceder movimentações políticas no futuro próximo, é um grande avanço a declaração conjunta «Sócrates-Passos» na defesa dos mais altos interesses do País.

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