Cupies Gourmet

18 de Maio de 2012 em Atualidade

Cupies Gourmet

Na semana em que o Imagens de Marca dedica a sua emissão aos Pequenos Grandes Negócios, o site foi espreitar a Cupies Gourmet. Uma loja pequenina e acolhedora numa rua escondida na Foz, no Porto, onde ninguém entra por acaso. É que o “boca a boca” tem cumprido a sua missão.

A qualidade e a originalidade estão na origem do sucesso desta marca, que leva a que os quatro amigos, que se tornaram sócios, já falem em franchising ao fim de um ano e meio no terreno.

O Imagens de Marca entrevistou dois deles. Pedro Geraldes e Verónica Fernandes falam daquilo que é este projeto, que é sem dúvida [1] a “menina dos seus olhos”, e levantam um pouco o véu daquilo que querem que venha a ser.

Imagens de Marca (IM): Como e quando surgiu a ideia da Cupies Gourmet?

Pedro Geraldes (PG) e Verónica Fernandes (VF): A ideia da Cupies surgiu da vontade de 4 sócios, com idades entre os 26 e os 30 anos e com áreas de formação muito distintas – arquitectura (Pedro Geraldes), direito (Verónica Fernandes), engenharia (Afonso Santos) e economia (Catarina Marques) -, em desenvolver, no Porto, um negócio próprio que estivesse relacionado com cupcakes.
Na altura, em Setembro de 2010, e na sequência de diversas viagens a Lisboa, percebemos que a “moda” dos cupcakes estava a conquistar bastantes adeptos na capital.
Consequentemente, sentimos que faria todo o sentido trazer este produto para o Porto, numa altura em que ainda não existia nenhuma loja específica que o desenvolvesse e trabalhasse como o produto cosmopolita e interessante que realmente é. No entanto, após algumas provas dos produtos existentes em Portugal chegámos à conclusão que, apesar dos cupcakes serem bolos extremamente apelativos ao nível visual, era fundamental que o impacto no momento da prova também fosse positivo, de modo a evitar que os clientes os comprassem uma vez por piada, mas não repetissem a experiência devido ao facto dos mesmos não terem a qualidade desejada. Queríamos descobrir como transformar um bolo bonito num bolo saboroso.
Neste sentido, o primeiro passo foi tentar fazer a adaptação do cupcake ao paladar dos portugueses, muito habituados aos sabores da excelente pastelaria tradicional do nosso país. A ideia era que os cupcakes mantivessem o aspeto apelativo que os caracteriza, mas que ao nível da base o queque fosse mais húmido e saboroso, e a cobertura fosse feita apenas com natas e frutas ou chocolate, eliminando o sugarcream.
[2]A partir do momento em que definimos este modo de preparação dos nossos cupcakes começámos a procurar o local ideal para nos estabelecermos enquanto, paralelamente, íamos testando este produto até obtermos o resultado ideal. Podemos dizer que tivemos alguma sorte porque o momento em que chegámos à receita ideal acabou por coincidir com o momento em que definimos a nossa localização, que culminou com a nossa abertura no dia 28 de Novembro de 2010.

IM: Como foi o processo desde a ideia até à sua concretização?
PG e VF: Começámos por abordar os centros comerciais que consideramos mais interessantes no Porto e a expor a nossa ideia, na tentativa de podermos começar com um pequeno quiosque, avançando mais tarde para uma pequena loja.
No entanto, chegamos muito tarde, e no momento em que fomos recebidos e apresentamos a nossa ideia foi-nos comunicado que [3] uma empresa da concorrência tinha assinado contrato apenas uma semana antes.

Ultrapassada a desilusão, em muito provocada por sermos inexperientes e estarmos à espera que as coisas nos fossem “correr de feição” logo de início, percebemos que a única certeza que tínhamos era a de que pretendíamos abrir um espaço próprio que tivesse por base os cupcakes. Com a exclusão de espaço num shopping optamos por reestruturar o nosso modelo de negócio, direcionando-o para um novo tipo de espaço e produtos.
Tomamos, assim, a opção de avançar para uma loja de rua, alterando o conceito do negócio, transformando-o na ideia de um espaço glamoroso e cosmopolita, com o conforto de uma sala-de-estar, onde as pessoas pudessem usufruir de uma vasta gama de doces, incluindo os cupcakes, mas também muitos outros, nomeadamente, cookies, brownie, macarons, licores, vodka de chocolate!
Neste sentido optámos por atribuir um novo cariz à loja, mantendo o cupcake como produto central, sendo até a base do nome Cupies, mas incluindo no conceito toda uma gama de produtos gourmet direcionados unicamente para o doce e os seus complementos.
[4]A nossa ideia era que a Cupies fosse uma loja totalmente diferente de todas as lojas gourmet que existiam e que estavam a surgir, mais vasta do que uma chocolataria onde se vendem essencialmente chocolates, mas mais especializada que uma mercearia fina, onde se vendem diversos produtos alimentares, doces e salgados. Interessava-nos estar essencialmente focados nos doces e nos seus complementos.
Para albergar todos estes produtos decidimos apostar em mobiliário antigo, vintage, que sempre apreciámos, optando por adquirir peças económicas que pudéssemos recuperar e dar-lhes uma nova vida e utilização.

IM: Qual o investimento inicial? Tiveram algum tipo de apoios financeiros?
PG e VF: De modo a minimizarmos o investimento inicial recorremos às nossas valências profissionais, tal como à dos nossos familiares e amigos, para que nos fosse possível montar todo o espaço com o mínimo de capital.
No próprio espaço da loja fomos nós, com a ajuda da nossa família, que “raspámos” paredes, pintámos, limpámos, necessitando de contratar serviços externos apenas para alguns arranjos mais técnicos. De uma forma simples, tentámos aproveitar as valências do “capital humano” que nos rodeava, utilizando a rede de contactos dos quatro sócios, que ia do Porto até Braga.
Assim, não recorremos a qualquer tipo de financiamento porque sentimos que o momento para abrir a Cupies era aquele. Se estivéssemos à espera de financiamentos ou da decisão dos bancos o momento poderia passar e quando o financiamento chegasse poderíamos ser mais uma e não a primeira loja gourmet especializada em doces do país. Sendo 4 sócios utilizámos as nossas próprias economias, porque este era um sonho de todos e acreditamos nele desde o início.
O investimento inicial se situa abaixo dos 15 mil euros.

IM: Quais as maiores dificuldades que enfrentaram para pôr o projeto de pé?
PG e VF: As dificuldades que sentimos estiveram relacionadas, fundamentalmente, com fatores económicos. Apesar de termos usado as nossas economias, o risco é um fator sempre muito real e implicou algumas noites sem dormir. Tínhamos determinado um valor limite para o investimento de cada um no negócio e a grande dificuldade foi colocar a loja em funcionamento com esse valor.
Do ponto de vista burocrático não sentimos muitas dificuldades, porque hoje em dia estes processos acabam por estar muito simplificados.
Também sentimos que, apesar do gourmet ser um meio relativamente pequeno é, sem dúvida, um meio extremamente competitivo e fechado, onde foi evidente a dificuldade em estabelecer parcerias com outras lojas, trocar ideias, planear eventos em conjunto. Parece-nos ainda existir uma grande resistência à criação de sinergias, que de algum modo valorizem as diferentes marcas.
Outro dos problemas que sentimos, mas que vamos ultrapassando com muita pesquisa e viagens, passa por encontrar bons fornecedores de produtos portugueses que estejam fora dos grandes circuitos comerciais. A nossa ideia sempre foi oferecer uma gama de originais e excelentes produtos, maioritariamente, portugueses, mas que não se encontrassem com facilidade em qualquer loja gourmet. Sempre quisemos deixar a nossa marca precisamente pela diferença dos nossos produtos, quer pela sua atratividade quer pela sua exclusividade.

IM: E histórias engraçadas que viveram? [5]
PG e VF: Há muitas histórias engraçadas, mas o facto de termos uma loja aberta ao público potencia esse tipo de situação.
As situações mais peculiares passaram-se com alguns dos clientes que temos em pontos mais afastados do país e em território internacional. Já nos solicitaram o envio dos nossos bolos para a Suíça e Espanha e o envio de cabazes para os Açores e Madeira, o que é sempre um enorme desafio devido ao transporte dos produtos.
O envio dos bolos para fora do país foi uma situação particularmente engraçada, porque nunca imaginámos que a fama dos mesmos pudesse originar encomendas de tão longe, sabendo que há excelentes pastelarias em ambos os países. Com algum esforço e um enorme cuidado no acondicionamento dos bolos, estes foram enviados e o feedback que recebemos foi excelente.
Temos também um cliente que nos acompanha desde o início e que adora o Queijo da Serra que temos na loja na altura do Natal, que vamos buscar diretamente ao Sabugueiro. No entanto, por motivos profissionais, encontra-se a viver no Brasil, já tendo pedido, por diversas vezes, que o enviássemos para lá.

IM: O que fizeram para divulgar o negócio? Há algum plano de marketing específico?
PG e VF: Quando abrimos a Cupies éramos bastante inexperientes na área de marketing, até porque, apesar de sermos 4 sócios, nenhum tinha formação específica na área.
[6]Este “amadorismo” inicial fez com que fossemos muito cautelosos em todas as nossas decisões, fundamentalmente nas que implicassem a disposição de dinheiro.
Desde o início sabíamos que estávamos a avançar com a abertura de um negócio de “porta aberta”, numa fase economicamente menos positiva, em que as pessoas estavam a controlar os seus custos ao máximo. Como tal, sentimos a necessidade de ter um cuidado redobrado com a realização de qualquer tipo de investimento que pudesse, caso não tivesse os resultados esperados, colocar a loja em risco. Somos uma loja pequena, de decisões importantes a curto e médio prazo, mas de muitas decisões diárias cruciais, na qual 100€ euros representam muito dinheiro.
Por este motivo, desde o início, o trabalho de divulgação foi feito exclusivamente por nós.
Sempre acreditámos que o produto desenvolvido, sobretudo os cupcakes com a nossa receita, seria a nossa vantagem, na medida em que nos tornaria conhecidos pela qualidade. Iríamos “gastar” todas as nossas energias no desenvolvimento de produtos únicos e muito saborosos, deixando que fosse o fenómeno do “passa palavra” a colocar as pessoas na loja. Sabíamos que a recomendação do espaço por outros clientes, seria o modo mais sólido de construir uma reputação forte, alicerçada em opiniões de quem experimentou e adorou. [7]
Situando-nos numa rua escondidinha na Foz do Douro, são raros os clientes que entram na loja por acaso, ou seja, a grande maioria dos nossos clientes desloca-se propositadamente à Cupies, porque já nos conhece ou porque a mesma lhe foi recomendada.
Até ao momento este tem sido o nosso marketing e parece-nos que tem resultado muito bem.

IM: Quais as perspetivas de futuro para a Cupies Gourmet enquanto marca? Outras lojas em Portugal ou a internacionalização estão previstos?
PG e VF: O nosso desejo é que a Cupies tenha o maior alcance possível e que a qualidade dos nossos produtos e dedicação a cada encomenda, a cada cliente, seja reconhecida.
Temos muito interesse em abrir outras lojas, estando no momento a discutir algumas possibilidades de franchising para Porto e Lisboa. Vamos ver o que o futuro nos vai reservar.
Relativamente à internacionalização, acreditamos que o processo seja mais complicado. Neste momento já enviamos produtos da Cupies para uma rede de lojas gourmet em Angola.
Neste momento estamos à procura de novos contactos internacionais para podermos colocar os nossos doces noutras lojas em todo o mundo, e quem sabe abrir uma Cupies Gourmet noutro país.

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